Título: Com impasse entre Sarney e Dilma, Lula adia decisão
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 14/02/2008, O País, p. 9

Presidente quer evitar desgaste com o PMDB sobre cargos no momento em que Congresso instala CPI.

BRASÍLIA. A queda-de-braço entre o senador José Sarney (PMDB-AP) e a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, em torno do comando da Eletrobrás fez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva adiar para a próxima semana a definição sobre o loteamento dos cargos das estatais do setor elétrico. Depois de uma reunião, ontem, com os ministros Edison Lobão (Minas e Energia) e José Múcio Monteiro (Relações Institucionais), Lula preferiu não comprar briga com o aliado Sarney e, pelo menos por enquanto, pediu um tempo e remarcou a conversa com os dois para segunda-feira.

O anúncio dos nomes dos novos diretores e presidentes das estatais estava marcado para ontem. Mas Lula mudou de idéia depois de uma conversa com Sarney, em Macapá, na volta da viagem que fez no dia anterior para a Guiana Francesa. Lula avaliou que Sarney estava extremamente magoado com o desgaste público que sofreu com os dois vetos consecutivos de Dilma aos nomes que indicara.

Em janeiro, Sarney indicou o técnico Evandro Coura para presidir a Eletrobrás. Com a rejeição de Dilma, sugeriu o ex-presidente da Eletronorte e da Chesf, José Antônio Muniz. Mas Dilma não abriu mão da indicação do ex-presidente da Eletronuclear, Flávio Decat. Diante do impasse, Lula decidiu avaliar com calma uma solução para não enfraquecer Sarney.

- Diante dos nomes apresentados, o presidente Lula pediu para meditar um pouco mais - limitou-se a explicar o ministro Edison Lobão.

Integrantes do governo avaliam que, num momento em que o Congresso vai criar a CPI do Cartão Corporativo, o Planalto precisa agregar forças e não pode criar insatisfação na base. O PMDB tem usado esse argumento nos bastidores para fortalecer a negociação por cargos.

- O PMDB precisa receber o tratamento de aliado - ressaltou o líder do PMDB, deputado Henrique Eduardo Alves (RN).

Abin detectou problemas na ficha do afilhado de Jader

Dilma alegou internamente que a indicação de Decat fora feita pelo próprio PMDB, por intermédio do governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ). Diante do impasse, o próprio Cabral mandou um recado ao Planalto: não seria um obstáculo para uma solução interna do PMDB. Mesmo assim, Dilma não mudou de posição.

Outra pendência é a nomeação para a presidência da Eletronorte do atual diretor do Detran no Pará, Lívio Rodrigues de Assis, afilhado político do deputado Jader Barbalho (PMDB-PA) . O levantamento feita pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) detectou vários problemas na ficha de Lívio, inclusive na Receita Federal e processos na Justiça em que ele aparece como réu.