Título: Ex-deputado reclama de vida difícil na Câmara
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 14/02/2008, O País, p. 10
Carlos Rodrigues nega mensalão e lamenta ter tido que abraçar eleitores desconhecidos.
Uma vida sofrida e cheia de sacrifícios. Foi assim que o ex-deputado e ex-"bispo" da Igreja Universal Carlos Rodrigues definiu o período em que exercia mandato parlamentar, diante do juiz substituto da 7ª Vara Federal Criminal, Erik Navarro Wolkart. Fora do cargo desde que renunciou, alvo do escândalo do mensalão, o ex-deputado deu sua definição da rotina que levava ao depor ontem à tarde, no Centro do Rio:
- Uma pessoa que vai fazer política sacrifica sua vida pessoal, sua família, seus afazeres, a sua vida. Ser parlamentar é muito ruim, meritíssimo. Você entra ali de manhã, sai à noite e não vê a vida passar. Sábado à noite, às vezes, você tem que ir a um casamento, abraçar cem pessoas que você nunca viu na vida. De repente você está em casa, um eleitor seu morre e você tem que colocar um terno para ir a um enterro... Você está com a sua família, sua esposa querendo ir ao cinema e não vai.
Um dos 39 réus do processo do mensalão, em curso no Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-deputado, em tom tenso e contrito, confirmou que recebeu os R$150 mil sacados do Banco Rural, como consta no processo. Alegou, no entanto, desconhecer a origem do dinheiro. Os recursos teriam sido pagos a mando do PT, em dezembro de 2003, para quitar dívidas de campanha feitas pelo PTB no Rio, durante o segundo turno das eleições de 2002, quando apoiou o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva no estado.
O ex-deputado negou que o dinheiro tenha sido usado para pagar mesadas a parlamentares do PTB em troca do apoio na votação de projetos do governo no Congresso. Ele disse "nunca ter ouvido falar" no mensalão.
Rodrigues afirmou que a quantia foi liberada um ano depois de uma reunião em São Paulo em que esteve com o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o então presidente do PL, Valdemar Costa Neto. O valor foi sacado pelo motorista Célio Marcos Siqueira, que prestava serviço ao então deputado Wanderval Santos, seu colega de partido.
- Nunca imaginei que o dinheiro que vinha do PT teria origem nebulosa. O PT era, na época, uma espécie de guardião da ética, da moral - disse o ex-parlamentar, que renunciou ao mandato antes de enfrentar o processo de cassação.