Título: Obama e McCain já se enfrentam
Autor: Martins, Marília
Fonte: O Globo, 14/02/2008, O Mundo, p. 31

Democrata e republicano agem como candidatos após vitórias nas três Primárias do Potomac.

Depois das vitórias nas Primárias do Rio Potomac, o senador Barack Obama já não vê mais a senadora Hillary Clinton no seu horizonte. As amplas margens de suas vitórias nas prévias - na Virgínia por 64% a 35%; em Maryland, por 60% a 37% e em Washington D.C. por 75% a 24% - reduziram Hillary a mera espectadora na corrida eleitoral. Depois de conquistar números tão exuberantes, Obama passou a discursar como o candidato democrata. No pronunciamento da vitória, Obama desafiou o candidato republicano John McCain para um debate sobre a guerra do Iraque.

- Respeito os serviços prestados pelo senador McCain aos EUA, mas está na hora de um debate sério sobre a guerra do Iraque, uma guerra que jamais deveria ter sido autorizada e que meu adversário não poderá jamais dizer que eu apoiei porque eu fui contra essa guerra desde o começo enquanto o senador McCain apoiava Bush - disse Obama para mais de 25 mil pessoas, em mais um megacomício de campanha, desta vez em Wisconsin.

Republicano rouba bordão democrata

McCain, por sua vez, também do alto de três novas vitórias sobre Mike Huckabee - na Virgínia, por 50% a 41%, em Maryland por 55% a 27% e em Washington por 68% a 17% - respondeu em tom de ironia, qualificando os discursos de Obama de "platitudes" e roubando o bordão dos comícios do democrata, dizendo estar "Empolgado e pronto para a luta!":

- A esperança é muito bem-vinda quando ela se baseia em fatos, senão vira platitude. Eu sei o que é esperança porque foi esse sentimento que me fez sobreviver à guerra no Vietnã. Para mim, esperança não é uma palavra bonita num discurso retórico - disse McCain, terminando o discurso em Alexandria com o bordão dos comícios de Obama. - Nesta campanha, eu estou empolgado e pronto para a luta.

Obama fez ontem um discurso sobre a crise econômica americana, em Janesville, Wisconsin:

- Nós não estamos numa recessão que esteja fora do nosso controle. A crise imobiliária custou muitos empregos e fez com que muitas poupanças desaparecessem, mas nada disto foi parte de um ciclo econômico inevitável. Isto foi causado pela falta de liderança e de imaginação de Washington - disse Obama, após visitar a fábrica da General Motors na cidade, um dia depois de a empresa ter declarado prejuízo de US$38,7 bilhões em 2007.

Obama também criticou o acordo Nafta de livre comércio com o México e o Canadá, assinado durante o governo Bill Clinton, como um tratado prejudicial aos interesses americanos por elevar o nível de desemprego no país. E defendeu um programa para estimular a criação de empregos nos EUA, com a criação do Banco Nacional de Reinvestimento em Infra-estrutura, para investir aproximadamente US$60 bilhões em dez anos e gerar cerca de dois milhões de empregos na área da construção civil - a fim de atender à população de baixa renda.

Investimento em tecnologias verdes

Obama garantiu que os recursos para a criação do novo banco de investimentos teria origem em recursos advindos do fim da guerra do Iraque. Ele também estipulou que seu governo investiria aproximadamente US$150 bilhões ao longo dos próximos dez anos num novo programa energético, capaz de substituir a dependência americana do petróleo por uma "nova matriz energética verde", o que geraria outros cinco milhões de empregos no prazo de 20 anos.

- É hora de parar de gastar bilhões de dólares no Iraque e de investir esse dinheiro nos EUA. Nós precisamos investir em fundos para auxiliar a indústria a adaptar-se às tecnologias verdes e para treinar os trabalhadores para os novos empregos que serão criados com esses investimentos - afirmou o senador democrata.

A campanha de Hillary reagiu à mudança de tom de Obama. Seus assessores contestam a liderança indiscutível de Obama, dizendo que ela investiu a maior parte de sua atenção em duas grandes disputas que ocorrerão no dia 4 de março: em Ohio e Texas. Seus coordenadores sempre disseram que até o fim da votação a diferença entre os dois candidatos seria mínima, deixando a decisão para os superdelegados, que, na opinião deles, favoreceriam Hillary.