Título: CPI do Cartão ainda sem crédito
Autor: Lima, Maria; Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 15/02/2008, O País, p. 3

GASTOS SEM CONTROLE

Requerimento é rejeitado e depois reapresentado, num vaivém que adia investigação.

ACPI do Cartão Corporativo, que investigará o mau uso do cartão de crédito do governo federal, viveu ontem mais um dia de confusão. Só à noite, depois de muito vaivém e uma recusa do presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), o requerimento de sua criação foi protocolado. A novela da CPI mista vai se estender até a próxima semana, quando governistas e oposicionistas vão disputar para valer o comando das investigações. PT e PMDB não abrem mão da presidência e da relatoria. Do outro lado, DEM e PSDB ameaçam criar outra CPI, só no Senado, se a oposição não ficar com um dos cargos.

O requerimento de criação da CPI foi protocolado à tarde pelo deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), na Mesa do Senado, com o apoio de 134 parlamentares da oposição e 84 da base governista, além de seis deputados e senadores independentes. O pedido tinha 189 assinaturas de deputados e 35 de senadores. O primeiro contratempo foi no fim da tarde, quando Garibaldi rejeitou as assinaturas dos senadores, devido a um erro de redação: em vez de usar o termo requerimento no título, foi escrito apoiamento.

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio Neto (AM), iniciou uma frenética busca por novas assinaturas de senadores, reapresentando o pedido, com 28 assinaturas, depois das 20h.

- Quero dizer que estou devolvendo o requerimento de criação da CPMI que foi apresentado à Secretaria-Geral da Mesa porque ele está eivado de um equívoco, de um erro - anunciou Garibaldi, surpreendendo o plenário.

Renan Calheiros se recusa a assinar

Imediatamente, Virgílio começou a nova coleta de assinaturas. Dos 17 senadores presentes, só Renan Calheiros (PMDB-AL) se recusou a assinar, com o argumento de que não se sentia à vontade para fazê-lo. Em seguida, o tucano começou uma romaria pelos gabinete, e seus auxiliares foram colher assinatura até na casa da senadora Serys Slhessarenko (PT-MT), e no aeroporto, onde Rosalba Ciarlini (DEM-RN), já estava embarcando.

- Essa CPI deverá se realizar de qualquer maneira, e espero que seja respeitando a proporcionalidade. Aqui no Senado o bloco de oposição tem a maior bancada e deve ter um dos cargos - disse Virgílio.

Antes da confusão sobre o requerimento, PT e PMDB ignoraram a oposição: indicaram o senador Neuto de Conto (PMDB-SC) para a presidência, e o ex-líder do PT na Câmara Luis Sérgio (RJ) para relator. Reunidos pela manhã com Sampaio, os líderes do DEM, PPS e PSDB decidiram que não aceitam ficar fora do comando. A decisão é indicar seus representantes, e, se não houver entendimento até lá, lançar um candidato para concorrer com Neuto de Conto. Se perderem, tentarão criar uma CPI do Senado.

Segundo o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), tenta negociar, mas o PT da Câmara, junto com o líder do governo, Henrique Fontana (RS), continuam fazendo de tudo para inviabilizar a CPI.

- Será uma questão de respeito com a sociedade participarmos de uma CPI de auto-investigação do governo. Uma ministra caiu, e eles vão comandar? Que credibilidade teria essa investigação? - disse Agripino.

- Se ficarmos de fora do comando da CPI, apresentaremos requerimentos convocando a ex-ministra Matilde Ribeiro e os ministro Orlando Silva (Esportes) e Altemir Gregolin (Pesca). Um outro requisitará informações da Presidência. E partiremos para uma CPI no Senado - confirmou Virgílio.

- As regras do jogo democrático devem ser cumpridas - rebateu o petista Maurício Rands.