Título: É preciso punir atitudes racistas
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 15/02/2008, O País, p. 8

O novo ministro da Secretaria Especial de Políticas de Igualdade Racial (Seppir) não considera o Brasil um país racista, mas diz que ainda há racismo e defende a adoção de medidas para combater o problema com mais vigor.

O senhor acha que o Brasil é um país racista?

EDSON SANTOS: O Brasil não é um país racista, mas há racismo e desigualdade racial. Não é racista porque não existe a institucionalização da diferença de raças. Mas há racismo, é só olhar a pirâmide social, que assume cor mais escura quanto mais desce para sua base. Há manifestações de discriminação e há vários relatos nesse sentido.

Como ministro da área, o que o senhor pode fazer?

SANTOS: É preciso mexer com as cabeças das pessoas. É um tema de toda a sociedade. E nosso papel junto às entidades que lutam contra o racismo é definir uma estratégia de sensibilizar a todos. E também é preciso criar mecanismos que inibam cada vez mais essas manifestações. A Constituição diz que racismo é crime inafiançável e imprescritível, mas é preciso ações para punir atitudes racistas.

Quais mecanismos?

SANTOS: Temos problemas de interpretação, que é qualificar como calúnia e difamação ser chamado de negro safado, macaco. É preciso instrumentalizar os órgãos de segurança e o Judiciário para que tenham postura mais dura e menos flexível.

O senhor acha que tem poucos negros em papéis de destaque na televisão, como dizem alguns movimentos?

SANTOS: No geral é isso o que ocorre. É muito ruim isso junto às crianças, na formação de sua auto-estima. Pode causar trauma ao cidadão. É preciso mexer com isso agora, conversar com os meios de comunicação, claro, que têm toda liberdade de contratar quem quiserem. É preciso ter um diálogo com as TVs no sentido de que a população negra seja tratada de forma positiva.

O senhor vê novela?

SANTOS: Não tenho tanto tempo de ver novela, mas acho legal o personagem do Lázaro Ramos (Evilásio, da novela "Duas Caras", da TV Globo), que é bacana, bonito de ser visto. Gostaria que houvesse mais personagens com essa característica, de líder, lutador que busca melhorias, e que houvesse negros até como empresários e professores universitários. A gente não pode obrigar as emissoras de TV, mas pode sensibilizá-las.

O senhor apresentou requerimento para realização de sessão solene em homenagem ao Dia da Favela e ao Dia da Consciência Negra. Conseguiu realizá-las?

SANTOS: Não. A Câmara não teve oportunidade de apreciar meus pedidos. O Legislativo não é tão rápido como gostaria que fosse.

Mantém a pré-candidatura a prefeito do Rio?

SANTOS: Ser prefeito do Rio é um sonho suspenso por enquanto. Aguardo outro momento mais adequado.