Título: Tratamento de Aids começa tarde no Brasil
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 15/02/2008, O País, p. 13

Quase metade dos pacientes atendidos no SUS iniciaram com atraso a terapia, segundo o Ministério da Saúde.

BRASÍLIA. Um relatório do Ministério da Saúde constatou que quase metade dos pacientes com Aids no Brasil, atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), iniciaram com atraso o tratamento contra a doença. Do total de 115.441 pacientes acompanhados pelo ministério entre 2003 a 2006, 50.393 (43,7%) tiveram seu diagnóstico constatado quando o quadro clínico já estava avançado. Desses, 14.462 infectados (28,7%) morreram.

A diretora do Programa Nacional de DST e Aids do governo, Mariângela Simão, atribuiu esse início tardio do tratamento a três fatores: dificuldade de acesso ao diagnóstico e atendimento nos serviços, falta de percepção da população (que não se considera do grupo de risco) e medo do diagnóstico:

- É um índice alto, diria até inaceitável. O pior indicador é esse, quando a pessoa faz o diagnóstico próximo do momento da morte - disse.

O documento com essas conclusões será enviado para a Assembléia Geral das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids). É uma espécie de prestação de contas das medidas do governo no combate ao HIV.

Dos casos acompanhados pela Programa de Aids, 65.048 pacientes (56,3%) foram atendidos no momento oportuno. O representante da Unaids no Brasil, Pedro Chequer, disse que a proporção de pessoas com HIV que iniciam o tratamento muito tarde é similar a de alguns países desenvolvidos, como Inglaterra e Estados Unidos. Mas ele elogiou o percentual de cobertura dos afetados pela doença no país: 95% têm acesso aos remédios e tratamento.

O presidente do Grupo de Apoio à Prevenção à Aids (Gapa), José Carlos Veloso, afirmou que a Aids ainda é uma doença que estigmatiza e que ninguém acredita que será infectado.

O relatório revela ainda que 32% dos brasileiros já fizeram ao menos um teste para saber se estão contaminados pelo vírus. Mas apenas 8% deles fizeram o exame por conta própria, desconfiados que poderiam estar com a doença; 92% só fizeram por recomendação médica. Segundo o ministério, as cerca de 600 mil pessoas infectadas com Aids no Brasil vivem em 85% dos municípios do país.