Título: Sigilo perfurado
Autor: Carvalho, Jailton de; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 15/02/2008, Economia, p. 25

EXTRAVIO DE INFORMAÇÃO

PF investiga furto de notebooks e disco rígido com dados secretos da Petrobras.

APolícia Federal (PF) em Macaé, no Norte Fluminense, abriu inquérito para investigar o sumiço de dois notebooks e um disco rígido com dados sigilosos sobre projetos de expansão da Petrobras, entre outros considerados estratégicos e de alto valor financeiro para a maior empresa do país. Segundo fontes do Palácio do Planalto, entre eles estariam informações sobre o megacampo de Tupi, que tem potencial para alçar o Brasil ao primeiro time dos produtores mundiais de petróleo e derivados. Por isso, mesmo com as investigações em fase inicial, uma das hipóteses da PF é que tenha havido espionagem industrial.

A delegada da PF de Macaé, Carla Dolinski, que preside o inquérito, disse que o contêiner com os equipamentos, sob responsabilidade da Halliburton, saiu de navio de uma plataforma na Bacia de Santos, no dia 18 de janeiro, e chegou ao Rio no dia 25. O contêiner foi levado à Petrobras em Macaé por carreta, pela transportadora Transmagno, chegando dia 30. O furto foi constatado no dia 31 pela Halliburton e informado no dia seguinte pela Petrobras à PF.

O serviço de Contra-Espionagem da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) também entrou em ação. A PF e a Abin estão orientadas a tentar esclarecer o caso o mais cedo possível. Entre os dados mais estratégicos, estariam informações sobre áreas de exploração de petróleo e gás nos megacampos de Tupi e Júpiter, revelou uma fonte. No futuro, a Petrobras pode negociar parcerias com empresas privadas para explorar essas áreas.

PF: outros casos de furto na Halliburton

A Abin soube do sumiço no dia 5, durante o carnaval. A PF em Macaé abriu inquérito e já começou a interrogar responsáveis pela guarda do material furtado. Há duas linhas de investigação: furto simples ou ação de quadrilha especializada em espionagem industrial. A primeira possibilidade foi levantada depois da descoberta de outros casos, registrados na polícia estadual, de furtos de equipamentos na Halliburton. Uma fonte de alto escalão da Petrobras diz que algum funcionário da Halliburton pode ter agido a serviço de um concorrente sem que a multinacional soubesse.

No Palácio do Planalto, a posição adotada foi de cautela. A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, está analisando o caso. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, conversou ontem por telefone com o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli. O ministro foi informado de que, a princípio, não havia motivo para alarme, e que o fato já estava sendo investigado pela empresa e pela PF. A Petrobras divulgou apenas uma nota dizendo que "houve um furto de equipamentos e materiais que continham informações importantes para a companhia, em instalações de empresa que presta serviços especializados", e que a estatal tem todas as informações roubadas. A ordem dada por Lobão é concentrar na Petrobras todas as providências.

Após solenidade com sindicalistas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez apenas um breve comentário:

- É um assunto sobre o qual preciso ter informações corretas e muito fidedignas. A hora em que tiver, falo com vocês.

O governo ainda trabalha com a hipótese do furto simples. Mas a ocorrência de espionagem industrial é a mais provável. Um ministro ressaltou que, confirmada a segunda hipótese, será muito grave, pois seria a primeira vez que a Petrobras sofreria ataque da indústria petrolífera. E o governo ainda não sabe como agirá.

No entanto, em entrevista ao GLOBO no fim de 2007, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Félix, revelou que Embraer e Petrobras, entre outras, têm sido alvo freqüente de espionagem não só por parte de outras empresas, mas até de governos estrangeiros. Segundo o general, este é um dos motivos que o levaram a propor a ampliação dos poderes de investigação da Abin.

As ações da Petrobras chegaram a subir de manhã na Bolsa de Valores de São Paulo: 1,25% as preferenciais (PNs, sem direito a voto) e 1,63% as ordinárias (ONs). O movimento se inverteu à tarde, mas com a repercussão no mercado do discurso do presidente do Federal Reserve (Fed), Ben Bernanke. As ONs fecharam em queda de 0,66% e as PNs, de 1,22%.

COLABORARAM Ramona Ordoñez, Luiza Damé e Felipe Frisch