Título: O furto é reincidente, diz engenheiro
Autor: Rangel, Juliana; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 16/02/2008, Economia, p. 34

Segundo diretor da Aepet, há um ano e meio ocorrem registros de problemas.

Desde a descoberta de uma reserva gigante na camada pré-sal no campo de Tupi, na bacia de Santos, a Petrobras tem sido alvo de uma prática muito comum no mundo do petróleo, mas até então pouco usada no Brasil: a espionagem industrial. O recente furto de dados estratégicos da estatal não foi o primeiro, segundo o diretor da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet) e ex-engenheiro da área de Exploração e Produção da estatal, Fernando Siqueira.

- Isso (furto) é reincidente, porque tenho notícias de que há um ano e meio vêm sendo roubados laptops na casa dos técnicos envolvidos com essa área, teve assalto na casa de dois engenheiros e um geólogo, e só levaram o laptop - informou.

Procurada, a Petrobras não quis comentar as declarações de Siqueira. Esse tipo de espionagem, lembrou o dirigente, é muito comum na indústria do petróleo. Para ele, as suspeitas sobre o autor do furto recaem em muitos agentes do setor. Ele diz que isentaria três empresas:

- Galp e British Gas (BG), por serem parceiras. E a OGX, de Eike Batista, que levou cinco gerentes para trabalhar lá, já tem os arquivos vivos.

Contemporâneo do atual diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrella, Siqueira lamentou que o furto jogue 30 anos de pesquisa feita pela companhia, por um valor estimado de US$2 bilhões, em mãos desconhecidas:

- São informações bastante estratégicas para futura exploração e perfuração da área.

Ele explicou que a Halliburton faz para a Petrobras um trabalho de perfilagem dos poços, ou seja, na medida em que vão sendo perfurados, a empresa pega amostras de rochas e traça um perfil do poço.

Siqueira informou que a Aepet enviaria ontem mesmo carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pedindo a suspensão imediata dos leilões de blocos de petróleo no país e mudança no marco regulatório do setor que, segundo ele, tem incoerências que prejudicam a soberania nacional. A entidade pedirá também que a Marinha seja acionada para ajudar a proteger as plataformas da Petrobras, que estariam vulneráveis.

Segundo Siqueira, o governo brasileiro deverá, a partir de agora, começar a sofrer pressões - que ele não quis especificar quais - para colocar as áreas do pré-sal nos leilões da Agência Nacional do Petróleo (ANP).