Título: Sócia da Petrobras em Tupi não foi informada sobre conteúdo furtado
Autor: Rangel, Juliana; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 16/02/2008, Economia, p. 34

SIGILO PERFURADO: Governo determina sigilo total na apuração do caso.

BG aguarda investigação para saber que dados havia nos computadores.

RIO e BRASÍLIA. A BG ainda não foi informada pela Petrobras sobre o conteúdo das informações que estavam nos computadores furtados, segundo uma fonte da companhia britânica. As informações podem ser referentes à reserva gigante de Tupi (na Bacia de Santos), na qual a BG é sócia da Petrobras, com 25%. A BG aguarda o desdobramento das investigações pela Polícia Federal. A portuguesa Galp, que tem 10% de Tupi, também não teria sido informada. A empresa não quis comentar o episódio.

- Estamos esperando informações mais precisas para saber se foi mero roubo ou se houve espionagem industrial. E também para saber que tipo de informação havia nos computadores. Por enquanto, achamos que é um caso que envolve apenas a Petrobras. Se, de fato, houver informações sobre Tupi, sabemos que seremos afetados, mas ainda não tivemos confirmação - disse a fonte da BG.

O Palácio do Planalto e o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, decidiram que o silêncio total e irrestrito deve pautar a atuação dos envolvidos direta e indiretamente na apuração. A ordem tomou como base a suspeita de que houve espionagem industrial. Por isso, também a determinação à equipe policial é que ninguém seja poupado e mesmo funcionários da estatal sejam investigados.

Ontem, cresceu no núcleo do governo a convicção de que o furto teve o objetivo de espionagem. A determinação do Planalto é que nem mesmo a Petrobras se pronuncie, para não atrapalhar as investigações. A estatal recebeu a recomendação para não divulgar mais notas. A partir de agora, explicou uma fonte, tudo ficará sob responsabilidade da PF. Não se sabe se os computadores tinham informações sobre Tupi, área com 5 a 8 bilhões de barris de petróleo recuperáveis, e que indica que pode haver uma reserva gigante de petróleo abaixo da camada de sal. Nem sobre a área de Júpiter, que tem reservas vultosas de gás na Bacia de Santos.

Consultor: dúvidas sobre prazo de chegada do contêiner

Para o advogado especialista no setor de petróleo Alexandre Chequer, do Tauil, Chequer & Mello Advogados Associados ao Thompson & Knight LLP, é muito difícil caracterizar o furto como espionagem industrial:

- Se fosse em Houston, certamente seria um caso desse, porque lá não há assaltos a cada minuto, como no Rio.

O roubo de informações confidenciais é comum em outros países na indústria de petróleo. Segundo o ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP) David Zylbersztajn, o Brasil cada vez mais ficará na mira desse tipo de criminoso, à medida que vem desenvolvendo tecnologia de ponta para explorar águas profundas.

- Como, em geral, o Brasil não é líder em segmentos de tecnologia de ponta, não fica sensível a este mercado. No entanto, a Petrobras é exceção.

Zylbersztajn acredita que, caso seja comprovada a hipótese de espionagem industrial, o maior interesse dos receptadores não está nas descobertas de Tupi ou Júpiter, mas na tecnologia utilizada para extrair o óleo a profundidades grandes, sob condições adversas, abaixo da camada de sal.

Zylbersztajn frisa ainda a falta de medidas de segurança, lembrando que a Halliburton tem grande reconhecimento mundial em logística, assim como sua concorrente Schlumberger.

- É preciso avaliar por que um contêiner sai de Santos no dia 18 de janeiro e só chega ao Rio dia 25 e em Macaé dia 30. Será que ele foi parando para recolher outras coisas?