Título: PSDB planejava tornar Alagoas vitrine do partido
Autor: Otavio, Chico
Fonte: O Globo, 24/02/2008, O País, p. 8

Com economia fraca e contas deficitárias, estado hoje depende do governo federal

MACEIÓ. Era uma vez um estado nordestino que o PSDB sonhava em transformar em vitrine dos programas tucanos de administração. O sonho durou o tempo suficiente para Teotônio Vilela Filho (PSDB), eleito governador de Alagoas em 2006, se dar conta de que a arrecadação não cobriria os reajustes do funcionalismo, herdados da gestão anterior, e que a folha de pagamentos caminhava para estourar o teto da Lei de Responsabilidade Fiscal. Em menos de três semanas de governo, as medidas emergenciais de redução de gastos, capitaneadas pelo impopular corte de reajustes dos servidores, mergulharam Alagoas numa crise sem fim, iniciada por professores e pessoal de saúde e agravada por quase sete meses de greve da Polícia Civil.

Para provar que o PSDB sabe governar para os mais pobres, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso cumpriu o que prometera a Téo Vilela, cedendo ao governo técnicos como o atual secretário estadual de Planejamento, Sérgio Moreira, ex-presidente da Sudene. Mas o problema não era de pessoal qualificado. Alagoas é hoje um estado praticamente sem receita própria, que depende essencialmente do dinheiro repassado pelo governo federal para programas de transferência de renda e pagamento de benefícios da Previdência. Segundo o economista Cícero Péricles de Carvalho, da Universidade Federal de Alagoas, 710 mil, de um total de 760 mil famílias residentes no estado, recebem benefício federal.

Cícero diz que esse bolo, que estima em R$5,5 bilhões, já representa 35% do PIB alagoano (R$14 bilhões). Para ele, o crescimento econômico detectado por pesquisas se deve basicamente "aos recursos que chegam de avião ou pela internet", porque a economia do estado é fraca, concentrada no setor sucroalcooleiro, da empresa química Braskan, na rede hoteleira, na indústria de fumo, em focos de pecuária leiteira e pequenas indústrias.

- Essa explosão de consumo está ligada à renda sem produção. O dinheiro está entrando na base, para os pobres. O estado está federalizado - explicou.

O dinheiro federal movimenta uma rede de comércio popular, na qual se destacam roupas de sulanca (tecido barato), bebidas de tubaína, alimentos semi-elaborados, vendidos em carrocinhas e em mercadinhos que já adotaram cartões de fidelidade. O problema é que grande parte disso está situada na informalidade e não paga impostos.

- Há dez anos, o que se arrecada não cobre a folha. O estado não tem a menor capacidade de investimento. Existe uma crise fiscal permanente. (Chico Otavio)