Título: DEM e PSDB estão à beira de divórcio eleitoral
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 24/02/2008, O País, p. 10

Dificuldade para selar alianças este ano ameaça inviabilizar coligação na disputa pela Presidência, em 2010

BRASÍLIA. A aliança entre PSDB e DEM corre o risco de não resistir a seu grande teste para a sucessão presidencial de 2010. Nos principais palanques para as eleições municipais deste ano, democratas e tucanos estarão em lados opostos. De forma reservada, a cúpula do DEM já não esconde a insatisfação com o que considera uma postura hegemônica dos tucanos e ameaça ficar fora da aliança presidencial. Um levantamento ainda reservado feito pelo DEM aponta que, das 14 capitais em que o partido pretende lançar um candidato, em nenhuma o PSDB está disposto a apoiar o nome do DEM.

O caso mais grave é em São Paulo. O DEM considera estratégica a reeleição do prefeito Gilberto Kassab, mas cresce, entre os tucanos, a pré-candidatura do ex-governador Geraldo Alckmin. Em vários casos, os tucanos já optaram por alianças com outros partidos, em vez de discutir uma união com o DEM. A cúpula do DEM resolveu dar um ultimato aos dirigentes do PSDB para continuar a parceria retomada em 2003, quando os dois partidos iniciaram uma linha de oposição ao governo Lula no Congresso Nacional.

O levantamento feito pelo DEM surpreendeu até mesmo os caciques do partido. Além de São Paulo, a legenda encontra dificuldade numa aliança com tucanos no Rio de Janeiro, em Porto Alegre, Florianópolis, Salvador, Aracaju, Recife, Fortaleza, Manaus, Belém, Palmas, Rio Branco, Boa Vista e Macapá.

Cresce no DEM idéia de candidatura própria em 2010

Em várias cidades, lembra um integrante da executiva do DEM, o PSDB não tem candidato, mas não apóia um democrata.

- Isso mostra que o PSDB não tem preocupação com o futuro. Os tucanos não aceitam ceder em nada. O que impressiona é a falta de empenho em fazer boas coligações. Isso está se tornando rotina e pode ter reflexos em 2010. Isso não é bom. Até porque somos aliados no Congresso. Quem tem planos para 2010 deveria pensar em 2008. Se ficar seqüela, haverá dificuldade para uma aliança maior num futuro próximo - afirma a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), responsável pelo grupo eleitoral do partido.

Já há quem defenda no DEM o lançamento de um nome democrata para a sucessão presidencial, como forma de emparedar o PSDB. A maior irritação é com a insistência dos tucanos no lançamento da candidatura de Alckmin, contra a reeleição de Kassab, que tem o apoio do governador tucano José Serra.