Título: Virgílio insiste em prévias no PSDB: Há provas que reforçam a unidade
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Fonte: O Globo, 24/02/2008, O País, p. 11

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), promete chacoalhar o partido com sua disposição de tentar forçar os tucanos a realizarem prévias para decidir quem representará a legenda em 2010. Virgílio conta que já avisou a seus dois prováveis adversários, os governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG), que terão de derrotá-lo primeiro dentro do partido para disputar a sucessão presidencial. Virgílio está longe de ser favorito na disputa pela vaga de candidato do PSDB à Presidência, até porque na última eleição teve um desempenho pífio ao concorrer ao governo de seu estado, mas diz que está determinado.

Adriana Vasconcelos

Como surgiu a idéia de se lançar candidato à Presidência da República?

ARTHUR VIRGÍLIO: Eu me animei com a decisão do partido de adotar as primárias, no estilo americano. Chega de três, quatro, cinco ou seis acertarem ou errarem pelos tucanos na hora de se escolher candidato. Os militantes tucanos, aos milhões - nós vamos fazer uma campanha de filiação em massa - devem assumir a responsabilidade pelos seus próprios erros e acertos. A gente tem a prova de que as prévias reforçam a unidade.

Essa disputa não deixará seqüelas?

VIRGÍLIO: O escolhido vai chegar menos soberbo. Sua candidatura chegará encorpada por um partido mais próximo da sociedade. O PSDB governou o país, mas não posso dizer que é muito próximo da sociedade.

O senhor já comunicou sua decisão aos líderes do partido. Qual foi a reação deles?

VIRGÍLIO: De um modo geral, todos acham que vai haver, no mínimo, uma oxigenação do partido. Comuniquei isso aos dois possíveis concorrentes - o favorito de hoje, que é o governador José Serra, e ao governador Aécio Neves -, ao presidente Fernando Henrique, aos meus companheiros do Congresso. Não vim a passeio, mas a serviço. Estou oficiando ao presidente Sérgio Guerra, solicitando a inclusão de meu nome nas pesquisas contratadas pelo partido, e que ele avise à grande mídia e aos institutos de pesquisas para que incluam meu nome. Solicitei minha participação nos programas de rádio e TV do partido. Ou aparecem os três ou não aparece nenhum. Vou percorrer o país inteiro.

É uma investida contra a política excessivamente paulista mantida pelo PSDB?

VIRGÍLIO: Tenho uma amizade enorme pelo presidente Fernando Henrique, muito respeito pelo Serra e grande amigos em São Paulo, onde tenho sido recebido de forma muito carinhosa nas ruas, restaurantes e por onde passo. As primárias vão acabar com isso. Não quero tirar o valor desse grupo, que fez muito pelo país, mas eu também fiz e tantos outros. Quero um partido aberto, democrático, escancarado, próximo da sociedade, que debata, e que esse debate não melindre ninguém, não signifique divisão. Não vou disputar a pré-candidatura no partido à base de flor de laranjeira.Vou duro para a luta, mostrar por que a minha proposta é melhor.

Mas seus potenciais adversários saem de patamares de votos muito elevados...

VIRGÍLIO: Serra sim, mas Aécio não, embora tenha grande potencial de crescimento. Aécio é um articulador mais hábil que Serra, e Serra é o mais favorito. Se sagrado candidato, Serra terá como principal adversário Ciro Gomes, que outro dia fez um discurso brilhante sobre a transposição do Rio São Francisco. Fui abraçá-lo e, em seguida, ele conseguiu brigar com o presidente da Mesa, que era o Paulo Paim, com essa figura doce que é Letícia Sabatella e com uma figura frágil como dom Luiz Cappio. Tudo numa mesma sessão.

Como reverter no partido o favoritismo dos dois?

VIRGÍLIO: O Serra não tem de pensar apenas no Ciro, tem de pensar em mim, tem de me derrotar no partido. Aparentemente, para o poderoso governador de São Paulo não deve ser tão difícil assim. O tempo é que vai dizer. A senadora Hillary Clinton só faltava assinar decretos quando começaram as primárias nos Estados Unidos. Hoje, um cidadão sozinho, que consegue mobilizar um milhão de contribuintes para sua campanha só pela internet, com enorme capacidade de falar para as massas, jogou a maior água no chope dos Clinton. Não estou me comparando com Obama. Estou dizendo que não existe casa pré-fabricada em política quando há uma disputa real.