Título: Professoras sofrem e buscam soluções
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 24/02/2008, O País, p. 12

Até ter chuveiros vira um sonho

BRASÍLIA. Com o pouco dinheiro arrecadado com bazares e campanhas junto a pais e mestres, a equipe que administra a Escola Classe 11 tenta construir três puxadinhos no meio do pátio para abrigar oficinas para atividades esportivas, aulas de artesanato e uma sala de informática. Para dar um exemplo da desigualdade na distribuição dos recursos da educação, o dinheiro usado para comprar uma lixeira e um saca-rolhas para o apartamento do reitor da UnB, Timothy Mulholland, daria para cobrir os gastos da obra mais prioritária da escola: banheiros com chuveiros para os alunos que não têm água em seus barracos para tomar banho.

Não há verba da Secretaria da Educação para essas obras extras. Impressora é um artigo que ainda não chegou à escola. Os trabalhos e as provas ainda são rodados num velho mimeógrafo a manivela. A grande atração do local onde seria o parquinho de diversões são três chuveirões encravados no muro, inaugurados como um grande acontecimento.

Além da busca de parceiros da escola na comunidade, as professoras gastam o pouco tempo que lhes sobra fazendo trabalhos manuais, que são vendidos para ajudar na arrecadação de recursos para compra do material de construção, que hoje ocupa o lugar que futuramente será dos computadores.

- Meu sonho é transformar a escola realmente numa ilha da fantasia, como os alunos dizem. Eles vêem as obras dos puxadinhos e perguntam com os olhos brilhando: Tia, vai ter internet? Eu respondo que uma dia vai, não sei quando, mas vai. Eles têm o direito de sonhar - diz a diretora Cléria Coelho, que tenta parcerias para agilizar a inclusão digital dos alunos.

Com a implantação do projeto da escola integral, agora em março, os alunos ficarão três horas a mais em sala de aula.

- Precisamos urgentemente de um banheiro com chuveiro. Quando os alunos vêm muito sujos, a gente chama os pais, mas eles chegam aqui mais sujos ainda. Como a gente vai cobrar e ensinar noções de higiene se vivem como bichos? Vira e mexe nós também pegamos piolhos. Tem aluno que traz de casa um pedacinho de sabão para se limpar aqui. A gente sofre com isso - diz Cléria.

O secretário de Educação do Distrito Federal, José Luiz Valente, diz que, das 616 escolas da capital, 187 já têm laboratórios de informática, mas sem acesso à internet. A meta é ter ainda este ano pelo menos quatro computadores na sala dos professores e um na secretaria de todas as escolas.

- Temos todo o interesse em dar apoio e estímulo a essas crianças mais carentes para que não desistam da escola - diz ele. (Maria Lima)