Título: Operação na Amazônia sob ameaça
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 17/02/2008, O País, p. 3

A quatro dias do início da ação contra desmatamento, governo não liberou a verba necessária.

Oinício da maior e mais longa operação de combate ao desmatamento na Amazônia está ameaçado pela falta de recursos e de estrutura do governo federal para pôr em prática as ações planejadas pela Polícia Federal e pelo Ibama. Até agora, não foram liberados os R$200 milhões necessários à mobilização de policiais, militares e fiscais ambientais em pontos estratégicos da Floresta Amazônica. Mesmo assim, a chamada Operação Arco de Fogo será lançada pelos ministros da Justiça, Tarso Genro, e do Meio Ambiente, Marina Silva, na próxima quinta-feira, em Belém.

- Não sabemos se o dinheiro virá do Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania ) ou de uma rubrica específica. O que sabemos é que o dinheiro ainda não saiu - afirma um das autoridades responsáveis pelos preparativos do mutirão contra crimes ambientais.

Serão adquiridos 50 contêineres

Os recursos deverão ser aplicados na compra de equipamentos, em pagamentos de diárias e na manutenção da estrutura de fiscalização. Só nesta primeira fase está prevista a aquisição de 50 contêineres, onde serão instalados escritórios móveis para abrigar policiais e fiscais em pontos centrais de estradas e matas. Esses escritórios, que servirão como bases da operação, vão mudar de endereço à medida que os fiscais forem avançando sobre as áreas mais críticas do desmatamento. Sem a previsão orçamentária, o processo de compra dos escritórios sequer foi iniciado, a menos de uma semana do início das ações.

Diante das dificuldades, policiais e fiscais já trabalham com a hipótese de começar a operação em conta-gotas. As primeiras ações serão iniciadas no prazo previsto no calendário do governo, mas os ataques mais sólidos aos responsáveis pelos crimes ambientais, que fariam a diferença desta em relação a outras grandes operações, só serão deflagrados em três meses. A repressão na primeira fase teria só caráter simbólico. A ofensiva mais dura contra o corte, o transporte e a venda ilegal de madeira só aconteceria após a montagem da estrutura de fiscalização.

Por enquanto, a PF e o Ibama restringirão a operação a 36 municípios de Pará, Mato Grosso e Rondônia. São os estados e municípios que mais contribuíram para o desmatamento recorde do segundo semestre do ano passado. Policiais e fiscais vão fazer vistorias em pátios de serrarias e fazendas com planos de manejo e, em alguns casos, montar barreiras em estradas. Na segunda fase, se o dinheiro for liberado, a operação se estenderá aos demais estados da Amazônia Legal. A ordem é prender o máximo de pessoas em flagrante.

Uma das etapas mais complicadas da operação será o transporte da madeira e dos equipamentos que devem ser apreendidos. Hoje, muitas vezes o Ibama perde em eficiência porque não tem condições de recolher para depósitos públicos toda a madeira que apreende. Desta vez, os fiscais deverão alugar caminhões para retirar a madeira. Ao todo, deverão ser mobilizados 1.100 homens das polícias Federal e Rodoviária Federal e da Força Nacional de Segurança Pública. O Ibama entrará com 198 fiscais.

O Exército e a Aeronáutica deverão dar apoio logístico. Os termos da cooperação entre policiais, fiscais e militares estão sendo acertados entre os ministros Tarso Genro e Nelson Jobim, da Defesa. Pelo menos dez helicópteros, dois aviões e mais de 300 carros e barcos estarão à disposição para o difícil transporte da tropa por rios e florestas da Amazônia. O diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Flávio Montiel, confirmou que ainda não foram liberados os R$200 milhões para custear a operação. Mas, segundo ele, a falta de dinheiro não inviabilizará o lançamento da operação.

- Dentro dos recursos disponíveis na PF e no Ibama, temos condições de desencadear a operação para os próximos dois meses - disse.

Para os meses seguintes, Montiel espera que o Congresso aprove o Orçamento da União. Com isso, ficaria mais fácil o aporte de recursos. O Ibama dispõe de apenas R$6 milhões para o início da operação. Os outros R$194 milhões seriam do orçamento da Diretoria de Fiscalização do Ibama e do Ministério da Justiça. Montiel argumenta ainda que os R$200 milhões não serão gastos de uma única vez, mas ao longo da operação, que se estenderá por mais de um ano.

O governo federal decidiu montar a Operação Arco de Fogo depois da forte reação, no Brasil e no exterior, ao aumento recorde no desmatamento da Amazônia. Só entre agosto e dezembro do ano passado, uma área de aproximadamente sete mil quilômetros quadrados de floresta foi abaixo. Na pressa de mostrar serviço, o governo até divulgou a data de início da operação, o dia 21. Em geral, as operações são preparadas e lançadas de surpresa. Mas, segundo o delegado Daniel Sampaio, coordenador da operação, a publicidade antecipada não compromete o sucesso da ação:

- Muita gente já parou de desmatar por causa da notícia. Cada árvore não derrubada é um ganho.

Os detalhes finais da primeira etapa da operação foram acertados numa reunião entre dirigentes do Ibama e da PF, na sexta-feira. Os ministros Tarso Genro e Marina Silva deverão viajar a Belém para declarar publicamente o início das ações. A ofensiva foi batizada de Operação Arco de Fogo numa referência aos incêndios criminosos que se seguem às grandes derrubadas.