Título: OMS: é impossível conter o vírus
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 29/04/2009, Mundo, p. 20

Organização Mundial de Saúde pede ao mundo que se prepare para uma pandemia e mantenha ¿estado alto de vigilância¿. Nível de alerta pode voltar a subir

É tarde para barrar o avanço do vírus da gripe suína. O H1N1 já se espalhou por três continentes e a Organização Mundial de Saúde (OMS) pediu ontem ao mundo que se prepare para uma pandemia ¿ uma doença epidêmica amplamente difundida. ¿Nós estamos lidando com uma situação muito séria. Consideramos extremamente séria a chance de uma pandemia¿, afirmou Kenji Fukuda, diretor-geral adjunto para segurança sanitária e de meio ambiente, durante coletiva de imprensa realizada na sede da entidade, em Bruxelas. ¿Estamos realmente em um período em que os países deveriam se cuidar para a possibilidade de uma pandemia, especialmente aquelas nações que ainda não estão lidando com infecções em seu território¿, acrescentou. O especialista explicou que a OMS tem procurado se antecipar ao impacto de um surto de grandes proporções nos países em desenvolvimento.

Não está descartada a possibilidade de a entidade elevar nos próximos dias o nível de alerta de 4 para 5, o que indicaria infecção humana em larga escala e a iminência de pandemia. Essa medida depende da confirmação oficial das autoridades norte-americanas de que o vírus da gripe suína se espalhou de maneira significativa entre as pessoas. A Prefeitura de Nova York não descarta que o H1N1 tenha contaminado centenas de estudantes do centro de ensino médio St. Francis, no bairro Queens.

Fukuda explicou que é impossível determinar as origens do H1N1 e confirmou a estratégia de mitigação da doença, um sinal de que a OMS não tem condições de combater o vírus. ¿Uma das lições que a história nos mostrou é que as pandemias podem variar de relativamente moderadas a extremamente severas. Creio ser prematuro prever o tipo de pandemia que veremos. É inteiramente possível que tenhamos uma pandemia muito moderada¿, explicou. No entanto, ele lembrou que a pior pandemia do século 20 ocorreu em 1918 e começou relativamente leve até se tornar uma das mais graves doenças já registradas. ¿A coisa mais importante que podemos fazer agora é manter um estado bastante alto de monitoramento e vigilância¿, aconselhou.

Diante de uma possível epidemia, a farmacêutica suíça Roche enviou 2 milhões de kits do antiviral Tamiflu para a OMS e mantém outros 3 milhões nos depósitos de seu laboratório, com a promessa de encaminhar remessas aos países necessitados em até 24 horas. Em entrevista ao Correio, por e-mail, o microbiólogo norte-americano David Topham, co-diretor do Centro de Excelência de Influenza do Estado de Nova York, admitiu: ¿Ninguém sabe se é possível deter esse vírus¿. Apesar de reconhecer a eficiência de drogas antivirais como o Tamiflu, o especialista defendeu os esforços pela criação de uma vacina. ¿Modelos computacionais sugerem que o Tamiflu pode desacelerar a progressão de transmissão do H1N1, mas a estratégia ideal é o desenvolvimento da vacina¿, disse.

Genética O principal temor de Topham é de que o vírus H1N1 seja muito diferente, em termos genéticos, do influenza que circula entre humanos. ¿Isso sugeriria que nós temos pouca imunidade, o que tornaria o vírus de fácil disseminação¿, explicou. Até o momento, a rápida proliferação do H1N1 tem intrigado os cientistas. O vírus atingiu ontem pela primeira vez a Oceania e o Oriente Médio, com 11 casos na Nova Zelândia e dois em Israel ¿ um jovem e um homem de 47 anos recém-chegados do México. Os neozelandeses infectados são estudantes de segundo grau de Auckland que também retornaram de uma visita de três semanas ao México no último domingo.

Consultado pela reportagem, o chinês Yi Guan, diretor do Laboratório de Doenças Infecciosas Emergentes da Universidade de Hong Kong, adota um tom menos pessimista. ¿Ainda não é impossível conter esse vírus no atual estágio, ainda que ele tenha se expandido para vários países¿, garantiu. Segundo ele, os infectologistas precisam acompanhar prováveis tendências: um aumento dramático no número de casos nos Estados Unidos; a transmissão entre humanos nos outros países afetados; uma redução no número de infectados no México.

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