Título: Preço alto de conversor inibe adesão à TV digital. Indústria culpa governo
Autor: Rodrigues, Lino; D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 17/02/2008, Economia, p. 35

Em dezembro, ministro recomendou que pessoas esperassem para comprar.

SÃO PAULO. Dois meses depois do lançamento do sistema de TV digital na cidade de São Paulo, a adesão dos telespectadores à nova tecnologia ainda é muito pequena. O preço alto dos conversores (as caixinhas que convertem o sinal) e dos televisores com a tecnologia embutida, segundo especialistas ouvidos pelo GLOBO, explicam a baixa procura dos consumidores pelos equipamentos.

Embora admita que os produtos são realmente caros, a indústria credita a baixa adesão dos consumidores às recomendações do ministro das Comunicações, Hélio Costa, que na época do lançamento das transmissões da TV digital, em 2 de dezembro, recomendava abertamente às pessoas que esperassem os preços caírem para comprar os conversores - vendidos, na época, a preços entre R$499 e R$1.100.

Indústria e varejo não falam em números de vendas. Como a maior parte dos equipamentos foi importada da China, ou fabricada em pequenos lotes em Manaus, as empresas do setor dizem que não há como baixar os preços. Elas esperam ir reduzindo seus estoques com o lançamento, nos próximos meses, das transmissões digitais em outras cidades além de São Paulo, como Belo Horizonte, Brasília e Rio de Janeiro.

Executivo diz que desconfiança inicial é normal

A Semp Toshiba, que importou suas caixinhas, informa que as vendas do equipamento em dezembro ficaram dentro do esperado, mas em janeiro desabaram. A empresa, que em dezembro falava em começar a produção dos conversores em sua fábrica de Manaus ainda no primeiro trimestre deste ano, optou, agora, por ampliar a produção de televisores de LCD e irá fabricar as caixinhas só a partir do segundo semestre.

- Novas tecnologias demandam um tempo maior para conquistar os consumidores - argumenta Walter Duran, diretor de tecnologia da Philips para a América Latina.

Duran ressalta que o modelo tecnológico adotado pelo Brasil, embora baseado no padrão japonês, é novo, sem similares no mundo. E, nesta etapa, com a tecnologia ainda em fase de desenvolvimento e sem escala da demanda pelos equipamentos, não há como ter conversores mais baratos, concordam os especialistas.

- Quem define o preço dos equipamentos é o mercado. Não é só a indústria ou um ministro - diz Roberto Franco, presidente do Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD), que também é diretor do SBT.

Segundo Franco, em todos os países onde foram implantados sistemas digitais de televisão a adesão dos telespectadores foi lenta, e, no Brasil, não será diferente.

- A demanda vai começar a aquecer este ano, mas não deverá explodir. Isso não aconteceu em nenhum lugar do mundo - disse Franco, lembrando que, desde o lançamento, em dezembro, já são dez canais transmitindo programações conteúdo em sinal digital.

Além disso, argumenta Duran, da Philips, existem ainda muita desconfiança e dúvidas por parte dos compradores em relação à qualidade e à durabilidade dos produtos.

- Existe uma desconfiança normal, própria das novas tecnologias. Já em relação aos preços, em alguns meses devemos ter produtos mais baratos. Mas não em algumas semanas, como quer o ministro - diz o executivo.

Indústria e varejo devem investir em publicidade

Franco, do Fórum da TV Digital, aposta numa retomada das vendas de conversores por agora, depois do carnaval. Segundo ele, no lançamento do novo sistema, apenas as emissoras investiram em ações para divulgar a novidade. Agora, diz ele, é a vez de a indústria e de o varejo investirem em campanhas publicitárias de venda de conversores e de aparelhos de TV com o equipamento já integrado.