Título: Aceita-se cartão: até em reserva indígena
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 24/02/2008, Economia, p. 33

Além dos pataxós, engraxates e ambulantes vendem 60% mais recebendo dinheiro de plástico de clientes

BRASÍLIA. Ambulantes, engraxates, feirantes e até índios estão entrando numa nova era quando o assunto é meio de pagamento. Com a disponibilidade da tecnologia sem fio, muitos trabalhadores autônomos passaram a usar máquinas de cartão de crédito e débito para garantir suas vendas, seja no meio na rua, seja dentro de uma reserva florestal. A facilidade, argumentam, já ajuda a aumentar em até 60% as vendas, diminui o risco de calote ¿ porque eles não precisam mais vender fiado ¿ e reduz o risco de perder o freguês que não tem dinheiro vivo.

¿ Tinha muito turista estrangeiro que vinha até nós e mostrava seus cartões, querendo pagar com eles. Agora, a situação está bem melhor. Nossa vendas chegam a crescer 50% num dia ¿ explica a índia Mitynawã, presidente da Associação Pataxós de Ecoturismo, sediada em Porto Seguro (BA).

A comunidade, que reúne 32 famílias na reserva da Jaqueira, vive basicamente da venda dos artesanatos produzidos pelos próprios índios e, desde dezembro, aceita cartão de débito como forma de pagamento.

Caderninhos de fiado foram aposentados

No caos urbano, a história se repete. Engraxate em um edifício numa movimentada área de São Paulo, Xuxaine ¿ que só se apresenta com o nome de guerra ¿ mantém a maquininha dentro do caixote com os apetrechos do trabalho. Conta que foi um achado: metade de seus 20 clientes diários, em média, já paga o serviço com o dinheiro de plástico.

¿ O cartão facilita muito a minha vida, não se perde cliente ¿ afirmou Xuxaine, um dos pioneiros no uso de cartões por trabalhadores autônomos.

Para as empresas de cartão, o investimento nesses pequenos negócios é recompensado muito mais pela exposição das bandeiras do que pelo volume de recursos girados.

¿ Quanto mais ampla for a aceitação dos cartões, mas útil será para seus usuários. O mercado tradicional, como lojas, já está maduro ¿ explicou o diretor-executivo de vendas e marketing da VisaNet, Eduardo Gouveia.

No Rio, experiências semelhantes já existem. O operador de varejão ambulante Wagner da Silva Ribeiro conta que desde que passou a oferecer a possibilidade de pagamento com cartões, há oito meses, nunca mais teve de usar os famosos caderninhos para pendurar as contas dos seus clientes e, conseqüentemente, não corre mais risco de calote.

¿ E ainda, com os cartões, há muito mais venda por impulso. Se a pessoa vem com o dinheiro contado, não compra mais. Com o cartão, ela pode comprar mais ¿ avalia Ribeiro, cujas vendas de frutas, verduras e legumes em seu ônibus cresceram ente 15% e 20%.

A tecnologia sem fio, ou wireless, abriu o caminho para que esses autônomos pudessem receber cartões como forma de pagamento e, ao mesmo tempo, continuarem na rua.

Trabalhador tem de estar legalizado e ter conta bancária

O ambulante Tiago dos Santos Maciel, que anda cerca de cinco quilômetros por dia pelo centro de São Paulo vendendo bijuterias, conta que, com os cartões, aumentou em 60% o lucro auferido com as vendas.

Mas ele cobra preços diferentes pela mercadoria dependendo da forma de pagamento, já que tem de desembolsar 3,5% do valor da venda para a emissora do cartão de crédito e 2,5% quando é usado o cartão de débito. Isso sem contar o aluguel da máquina, de R$140 por mês.

¿ Uma correntinha de aço inox sai a R$25 quando comprada pelo cartão de crédito e a R$20 se for à vista ou em débito ¿ explicou Maciel.

Para conseguir as máquinas, esses trabalhadores autônomos têm de provar que estão legalizados, com firma aberta ou permissão para o trabalho, além de terem conta aberta em algum banco, para que as emissoras façam os pagamentos. Caso contrário, não conseguem se habilitar.

¿ Queremos expandir o nosso meio de pagamento ¿ afirmou a diretora de Planejamento Comercial da Redecard, Ellen Muneratt.