Título: CPI não incomoda, diz Lula
Autor: Gois, Chico de; Fernandes, Diana
Fonte: O Globo, 18/02/2008, O País, p. 3

GASTOS SEM CONTROLE

Presidente provoca tucanos: cartão "foi a única coisa boa que o governo passado criou".

Opresidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que a CPI do Cartão Corporativo, cujo requerimento de criação deve ser lido em sessão do Congresso Nacional quarta-feira, não incomoda seu governo. Em entrevista concedida durante visita à estação brasileira na Antártica, Lula voltou a ressaltar que os cartões corporativos ajudam a dar mais transparência aos gastos do governo. E provocou os tucanos, que reivindicam pelo menos um dos cargos de comando da CPI, ao declarar que o cartão corporativo "foi a única coisa boa que o governo passado criou". Para Lula, o cartão corporativo "é uma coisa fantástica".

Disse também, numa provocação indireta ao governo de São Paulo, que os gastos do governo federal são mais transparentes. Na verdade, pouco mais de 11% das despesas do governo com cartão corporativo e a chamada conta B são detalhados pelo Portal da Transparência.

- (A CPI) Não incomoda porque o cartão corporativo é a coisa mais decente que foi criada, ainda no governo passado. Aliás, durante a campanha eleitoral de 2006, num debate, eu disse para o meu adversário que a única coisa boa que o governo passado criou foi o cartão corporativo. Porque ele permite que a imprensa e cidadãos comuns tenham acesso às informações que estão colocadas no Portal da Transparência pela Controladoria Geral da República - disse Lula: - É uma informação que estamos prestando à sociedade, e fico agradecido quando a imprensa vai atrás. Procure, encontre e publique, porque a gente vai consertando. Agora, a idéia de que os cartões são prejudiciais é no mínimo ignorância de quem fala. Porque os cartões são a coisa mais moderna que existe. É uma coisa fantástica."

Segundo Lula, a CPI deve não só apurar eventuais equívocos no uso dos cartões, mas apresentar também sugestões que garantam maior transparência aos gastos públicos:

- Queremos aprimorar o Portal da Transparência, para que todo mundo saiba o que acontece todo santo dia com os gastos públicos - acrescentou Lula: - Certamente, se a gente for analisar no Brasil, deve haver em muitos lugares aí contas que não têm a qualidade da prestação que têm as contas do governo federal.

DEM: "Vamos forçar barra por vaga de comando"

Lula deve participar hoje, no fim da tarde, de reunião com o ministro das Relações Institucionais, José Múcio, e os líderes de governo no Congresso - os senadores Romero Jucá (PMDB-RR) e Roseana Sarney (PMDB-MA) e o deputado Henrique Fontana (PT-RS) - para traçar a estratégia da base aliada na instalação da CPI.

O ministro antecipou que não aceita a imposição da oposição de querer um dos cargos de comando da CPI, mas também não descartou a possibilidade de um entendimento.

- No governo FH nunca teve essa divisão de cargos em CPI com a oposição. Nunca teve. Mas vamos ver, desde que não seja como eles estão querendo, como uma imposição. Vamos ver com os líderes o que se pode fazer - disse Múcio.

Ele admitiu que um entendimento não será fácil, porque os líderes na Câmara, especialmente o do PT, não abrem mão de a base aliada ter a presidência e a relatoria da CPI mista:

- Os líderes vão avaliar a situação hoje.

Diante da resistência do governo em ceder uma das vagas de comando da CPI Mista do Cartão Corporativo, a oposição pretende pressionar o presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), para que ele entre em campo e tente garantir um acordo ou assegurar, então, a instalação de uma CPI exclusiva no Senado. Garibaldi já se manifestou favorável à divisão dos cargos entre governo e oposição.

Preocupado com os reflexos do novo embate político nos trabalhos no Senado, Garibaldi teria ido ao Palácio do Planalto na última quarta-feira e feito um apelo em favor do entendimento.

- Se o governo continuar se negando a ceder um cargo de comando na CPI, vamos forçar a barra com Garibaldi. Quem vai definir a instalação da CPI é ele e, se quiser uma vida tranqüila no Senado, vai ter de trabalhar pelo entendimento - disse Demóstenes Torres (DEM-GO).

Segundo o senador goiano, se não houver acordo esta semana sobre o comando da CPI mista, a oposição vai protocolar um requerimento para a instalação de uma CPI no Senado, onde a correlação de forças com o governo é mais equilibrada. A estratégia seria instalar logo a CPI do Senado, o que inviabilizaria a mista.

- Se a CPI do Senado for instalada, a mista não acontecerá e vice-versa. Não seria possível ter duas CPIs com representantes do Senado para investigar o mesmo tema - disse Demóstenes.

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