Título: OMC: crise nos EUA pode elevar barreiras comerciais
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Fonte: O Globo, 18/02/2008, Economia, p. 18
Lamy adverte para perigo do retorno do protecionismo.
PARIS. O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, advertiu sobre "o perigo de um retorno do protecionismo" nos países ocidentais diante do arrefecimento do crescimento de suas economias, especialmente nos Estados Unidos, e de turbulências nos mercados financeiros.
Em entrevista publicada ontem no francês "Journal du Dimanche", Lamy considera que, se China e Índia seguirem se expandindo à razão de 10% ao ano, uma variação de 1% no crescimento dos EUA tem menos importância para a economia mundial do que no passado. Mas, para que esta dinâmica asiática tenha todo seu efeito, afirmou, os países devem evitar ceder à tentação do protecionismo:
- Uma reação de medidas protecionistas em cadeia seria mais prejudicial, porque somos mais interdependentes.
Com "os temores que a força da globalização" cria na opinião pública, especialmente para a proteção dos empregos, o comércio internacional se transforma em "bode expiatório", seja qual for a alegação racional que possa ser feita a favor da economia aberta, ressaltou ele.
Emergentes têm direito a mais peso nas negociações, diz ele
Lamy considera factível que se possa fechar o conjunto da negociação atual de liberalização comercial antes do fim do ano, quando for dado "um passo importante" no período da Páscoa em temas como as subvenções agrícolas e as tarifas.
À medida que parte do crescimento mundial depende das economias dos emergentes, explica Lamy, estes têm que poder "expressar suas vantagens comparativas e sua capacidade de crescimento", o que significa que se satisfaça algumas de suas reivindicações, especialmente as agrícolas.
Entre as atuais turbulências e o fato de que os grandes países emergentes têm direito a um peso mais forte na mesa de negociações comerciais, "existe uma coincidência, que pode ser favorável", assinala ele.
Lamy acredita ainda que o arrefecimento econômico deveria levar os EUA e os europeus a aceitar a redução de suas subvenções agrícolas, mas somente se, em contrapartida, houver abertura dos mercados, da indústria e dos serviços, em países como Brasil, China, Índia, Indonésia e África do Sul.