Título: Queda-de-braço na floresta
Autor: Brasiliense, Ronaldo
Fonte: O Globo, 21/02/2008, O País, p. 3

Madeireiros fazem ameaças, mas governo diz que operação contra desmatamento será feita

Depois de conseguirem adiar, com ações de resistência e violência, a operação do governo contra o desmatamento na Amazônia, madeireiros do Pará ameaçaram ontem reagir com novas manifestações como a realizada terça-feira em Tailândia, a 235 quilômetros de Belém. Ontem, foram presos quatro suspeitos de comandar a manifestação de anteontem, da qual participaram cerca de dez mil pessoas, que impediram a remoção de 15 mil metros cúbicos de madeira cortada ilegalmente. Eles foram ouvidos pela polícia em Tailândia e liberados. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse que o governo não se intimidará e realizará a Operação Arco de Fogo, contra o desmatamento, que seria iniciada hoje e foi adiada por causa dos protestos no Pará.

Com o argumento de que defendem milhares de empregos, os madeireiros dizem que há risco de confronto entre a população dos municípios atingidos pelas operações e o contingente - formado por Polícia Federal, Força Nacional de Segurança, fiscais do Ibama e das secretarias estaduais de Meio Ambiente - mobilizado para reprimir a ação dos desmatadores.

- A base econômica desses municípios selecionados pelo Ministério do Meio Ambiente para realizar operações de combate aos desmatamentos é a madeira - disse José Conrado Santos, presidente da Federação das Indústrias do Pará (Fiepa). - Se essa população que vive da floresta for atingida, pode haver revolta dos trabalhadores.

O madeireiro Sidney Rosas, vice-presidente da Fiepa e ex-prefeito de Paragominas, município incluído na relação dos maiores devastadores de floresta pelo Ibama, reuniu-se ontem com o secretário estadual de Meio Ambiente, Walmir Ortega, para pedir agilidade na liberação dos planos de manejo florestal e das licenças de operação para as madeireiras.

- Tailândia foi só uma amostra do que vai acontecer no futuro - disse Rosas, referindo-se à manifestação em que houve confronto com a PM e cárcere privado de fiscais da Secretaria de Meio Ambiente. - Há um clima de revolta muito grande nos municípios do interior.

Demissões para insuflar a população

Os madeireiros demitiram cerca de duas mil pessoas em Tailândia para insuflar a população contra a operação Guardiões da Amazônia, do Ibama e da Secretaria de Meio Ambiente do Pará, que levou à apreensão dos 15 mil metros cúbicos de madeira nos pátios de serrarias no município.

- Aqui eles (fiscais do Ibama e da Sema) não entram mais - disse Francisco das Chagas, presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Madeireira, Moveleira e Olarias de Tailândia, Tomé-Açu e Concórdia do Pará. - Fomos tratados como bandidos pelos policiais, que ficaram apontando armas para nosso peito.

As demissões feitas após a Guardiões da Amazônia, segundo Chagas, atingiram 70% de todos os associados do sindicato. Na avaliação dele, as demissões poderão ser revertidas se a madeira apreendida puder ser processada.

O anúncio de que o governo federal adiara a nova operação contra os desmatamentos, feito em carros de som que percorriam Tailândia, foi recebido com aplausos pela população. Coube ao líder sindical Ademar Farias, com forte liderança entre os trabalhadores rurais, pedir calma aos manifestantes, solicitando que todos voltassem a seus empregos e já antecipando que as demissões seriam revertidas. A Polícia Militar manteve-se em prontidão, por orientação do secretário de Segurança Pública do Pará, Geraldo Araújo, e evitou novos confrontos com a população.