Título: Reitor da UnB recebeu diária para ir à ópera
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 19/02/2008, O País, p. 5

Universidade também pagou pela passagem aérea, de Brasília a São Paulo, para que Mulholland fosse ao teatro.

BRASÍLIA. O reitor da Universidade de Brasília (UnB), Timothy Mulholland, recebeu diária da instituição, no valor de R$321,90, para ir a São Paulo assistir à apresentação da ópera "Olga", em outubro de 2006. Produzida pelo Teatro Municipal, a ópera tinha a direção do professor da UnB Jorge Antunes. No mesmo ano, o reitor embolsou outra diária, de R$307,18, para atuar como jurado, a convite da multinacional agrícola Bunge, num prêmio entregue pela fundação da empresa, na capital paulista.

O vôo de Brasília a São Paulo para prestigiar a ópera, em 14 e 15 de outubro de 2006, também foi custeado pela universidade, segundo a instituição, mas a assessoria de imprensa não informou o valor das passagens. Já o deslocamento para participar do júri do Prêmio Fundação Bunge 2006, em 3 e 4 de agosto de 2006, foi pago pela multinacional, segundo a assessoria. Nos dois casos, a UnB justificou os gastos, alegando que o reitor representava a universidade.

Reitor recebeu diárias por viagem que não fez

Em 31 de janeiro de 2008, a UnB depositou mais R$3.953,06 na conta do reitor. O pagamento correspondia às diárias para visita a Cuba, onde Mulholland participaria do 6º Congresso Internacional de Educação Superior, em Havana. O reitor, no entanto, desistiu da viagem, como noticiou ontem o jornal "Folha de S.Paulo". O dinheiro só foi devolvido na última quinta-feira, coincidentemente, o mesmo dia em que a reportagem teria pedido esclarecimentos à reitoria.

A assessoria da UnB informou que a devolução da verba ocorreu dentro do prazo legal estipulado pelo decreto 5.992/2006. Os três pagamentos de diárias estão registrados no Siafi (Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal) e foram levantados pela assessoria do DEM no Congresso.

Atingido pela investigação do Ministério Público, Mulholland acabou deixando o apartamento funcional onde vivia. Ontem, ele se reuniu com o ministro da Educação, Fernando Haddad. O reitor e o ministro evitaram dar entrevistas. O Diretório Central dos Estudantes da UnB formalizou o pedido de afastamento temporário do reitor.

Além das diárias inusitadas e da investigação do Ministério Público, que apontou a compra de móveis luxuosos para seu apartamento funcional, a reitoria comandada por Mulholland é alvo de outra suspeita: seu assessor Wilde José Pereira confirmou ontem que comprou uma árvore de Natal, em novembro, com o cartão corporativo da instituição.

Notas fiscais foram adulteradas

Como O GLOBO noticiou domingo, o reitor apresentou nota fiscal adulterada, indicando despesas com bandejas, taças e um balde de gelo. A UnB informou que investigará qualquer irregularidade. Segundo Wilde, o erro foi da loja Splash Party. No entanto, os cupons fiscais impressos pela máquina registradora mostram a despesa total de R$1.010 com artigos natalinos. A UnB gastou R$1,2 milhão com cartões corporativos em 2007.