Título: Saudosismo
Autor:
Fonte: O Globo, 21/02/2008, Opinião, p. 6

À abertura do mercado brasileira de petróleo pode ser creditada uma parte expressiva dos bons resultados que a indústria vem colhendo, em especial os mais recentes, a começar pela maior liberdade de ação que a Petrobras adquiriu nesse novo modelo. Inserida agora em um mercado competitivo, e com a vantagem de já acumular grande conhecimento na exploração das bacias sedimentares produtoras de óleo e gás, a Petrobras tem se associado a outras companhias, dividindo assim os riscos e multiplicando sua capacidade de investimento.

Sem esse tipo de sociedade, é provável que a empresa estatal não tivesse ainda se aventurado a uma exploração dispendiosa em águas ultraprofundas, na fronteira tecnológica, na chamada camada de pré-sal da Bacia de Santos.

As descobertas alvissareiras nos campos provisoriamente batizados de Tupi e Júpiter de fato podem ocasionar uma enorme mudança nas perspectivas da indústria como um todo no Brasil, pois o país pode passar de importador crônico de óleo e gás para a condição de exportador.

Confirmada a viabilidade de aproveitamento comercial dos novos campos na dimensão presumida, os riscos exploratórios tendem a diminuir, mas os investimentos necessário para se produzir continuarão sendo muito elevados, o que sem dúvida exigirá a mobilização de várias empresas além da Petrobras.

Nesse sentido, o atual regime de concessões permanece o mais adequado para a exploração da nova província petrolífera, ainda que, devido às quantidades envolvidas, se possa admitir um aumento na cobrança das futuras participações governamentais, e até mesmo um certo calendário de produção (como fazem outros países que adotam esse modelo).

Então, o furto de informações classificadas como confidenciais pela Petrobras sobre o campo de Júpiter não pode servir de pretexto para que se paralisem as rodadas de licitação da Agência Nacional do Petróleo (ANP), como desejam procuradores do Ministério Público e militantes que ainda orbitam em torno da Petrobras. O Brasil já amadureceu o suficiente para administrar bem essa situação e não precisa regredir para o obsoleto monopólio estatal, como sonham alguns saudosistas.

Parece que o país não está com falta de gás, em risco energético, e o petróleo no exterior não rompeu a barreira dos US$100 o barril.