Título: Corrida às farmácias
Autor: Sallum, Samanta; Veleda, Raphael
Fonte: Correio Braziliense, 29/04/2009, Mundo, p. 23

Antes mesmo de ser confirmada qualquer suspeita da presença do vírus H1N1 no Brasil, a população do Distrito Federal já está se prevenindo com a compra de máscaras e antivirais. Nas farmácias brasilienses já não é possível encontrar o remédio recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para tratamento da gripe suína, de acordo com levantamento feito pelo Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do DF (Sincofarma). A procura por máscaras descartáveis também aumentou consideravelmente. Uma rede com duas lojas localizadas na rua das farmácias vendeu quase 2 mil máscaras em apenas dois dias. A preocupação não parte só dos brasilienses que vão viajar para o exterior. Alguns já estão comprando para fazer estoque, mas especialistas em medicina sanitária não recomendam a automedicação.

A procura pelo Tamiflu, remédio recomendado pela OMS, e pelo Relenza, com propriedades parecidas, começou na segunda-feira, segundo o presidente do Sincofarma, Felipe de Faria. ¿Os dois medicamentos acabaram no país todo e não há previsão de chegar mais, porque acabou nas distribuidoras. Houve uma corrida muito grande e são produtos que não temos muito em estoque¿, afirma. O gerente de uma farmácia da Asa Sul, Leiva Ribeiro da Costa, estima que cerca de 15 consumidores tenham procurado a drogaria nos últimos dois dias, em busca do Tamiflu. A caixa com 10 comprimidos tem preço fixado em R$ 155,39 na farmácia, que, no entanto, não possui nenhuma unidade do medicamento. De máscaras, foram vendidas pelo menos duas caixas de 50 unidades. ¿Ontem, vendemos todas as máscaras para os participantes de um congresso que contava com a presença de mexicanos. As pessoas estão preocupadas¿, analisa.

A automedicação, no entanto, é criticada pelo médico sanitarista Pedro Tauil, professor da Universidade de Brasília (UnB). ¿Essa corrida para comprar o remédio é perigosa. Não temos nenhum caso confirmado no Brasil, então não temos fonte de infecção. As pessoas vão tomar de forma errada e quando precisarmos, se precisarmos, não teremos o remédio no país. Tomar remédio sem necessidade pode causar reações adversas e as pessoas podem aumentar a resistência do vírus ao medicamento, que ainda é eficaz¿, avisa.

A demanda pelas máscaras é maior entre quem vai viajar. Na farmácia do aeroporto internacional de Brasília, o estoque de quatro caixas não deve durar muito mais. ¿Teve gente que levou logo uma caixa¿, conta o atendente Valter de Jesus. ¿Já vendi máscaras para três pessoas que estavam embarcando para a Espanha. Lá já tem casos confirmados, e isso assusta um pouco as pessoas. Elas preferem garantir logo a proteção¿, completa Alla Borgmann, que também trabalha no local. O estoque do remédio indicado para tratar a gripe suína também já se esgotou na farmácia do aeroporto.

Apesar de não ter planos de sair do Brasil nos próximos meses, a professora Eliane das Neves, de 54 anos, gastou R$ 75,90 com a compra de uma caixa com 20 unidades da máscara mais reforçada, que custa R$ 3,79 a unidade ¿ o modelo mais simples é vendido por R$ 0,37. A compra foi uma recomendação da filha médica, que teme que o vírus se alastre pelo Brasil e fique difícil encontrar o produto para proteção. ¿Comprei para ter em casa em qualquer emergência. Na minha casa, todos vão tomar vacinas para gripe só por precaução, para aumentar a imunidade¿, conta. Muita gente está fazendo como Eliane, segundo Roger Araújo, gerente de uma loja especializada em produtos hospitalares com duas unidades na rua das farmácias. ¿Já vendemos 2 mil unidades na segunda e na terça e a procura continua. Só temos mais 200 máscaras no estoque, mas já encomendamos mais. Acho que vamos vender muito neste período, as pessoas querem se prevenir.¿