Título: Governo busca apoio também da oposição
Autor: Jungblut, Cristiane; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 22/02/2008, O País, p. 3

Múcio convida DEM e PSDB para reunião com Mantega antes de proposta ir para o Congresso.

BRASÍLIA. Consciente de que terá dificuldade para a aprovação da reforma tributária este ano, o governo chamará a oposição para discutir a proposta antes de seu envio ao Congresso, previsto para a quinta-feira da semana que vem. Ontem, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, convidou os presidentes e líderes do DEM e do PSDB para um encontro terça-feira, com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ao mesmo tempo, o Planalto tenta organizar uma reunião com os governadores em Brasília.

O objetivo é tentar criar um consenso mínimo em torno da proposta, já que a avaliação mais comum é que será difícil aprová-la em ano eleitoral. Mesmo assim, o governo quer pôr a reforma na pauta do Congresso para criar uma agenda positiva e, com isso, tentar neutralizar o noticiário da CPI do Cartão Corporativo.

- Esse encontro é importante como um gesto de que o governo quer um entendimento. Mas ainda há muito caminho pela frente - reconhece o próprio ministro José Múcio.

PSDB e DEM ainda estão traumatizados com o desgaste provocado, no fim do ano passado, quando tucanos apareceram numa foto com Mantega, almoçando no Ministério da Fazenda. Ao ser avisado ontem do convite pelo presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), o líder do partido, senador Agripino Maia (RN), alertou que o conveniente seria um encontro de Mantega com a oposição na liderança do governo no Congresso. E não na Fazenda.

A oposição teme ser usada pelo governo e, depois, ser responsabilizada em caso de fracasso das negociações de um tema complexo.

- Se o governo quer apresentar a proposta de reforma tributária, temos que participar. Mas a reunião não deve ser no gabinete do ministro da Fazenda, mas no Congresso. O que o governo quer, na verdade, é colocar um bode na sala para escapar do debate das irregularidades do uso do cartão corporativo - observou Agripino.

O líder do DEM disse que, se o governo tivesse mesmo interesse em discutir a reforma, teria apresentado a proposta há um ano, no início do segundo mandato de Lula, e não agora, ano eleitoral. Ele lembra que a disputa municipal vai tomar conta da agenda política, criando um clima de animosidade, fatal para o debate da reforma tributária, que precisa de consenso:

- Este é um ano de eleição e, além disso, quero ver o presidente Lula entrar em bola dividida com os seus parceiros nos estados.