Título: Dengue: ministro culpa favela e classe média
Autor: Menexes, Maiá
Fonte: O Globo, 22/02/2008, Rio, p. 16

Agentes são impedidos de entrar em casas no asfalto; problem se repete em comunidades dominadas pelo tráfico.

Na contramão dos dados nacionais, o número de casos de dengue no estado Rio "mais do que dobrou", segundo o ministro da Saúde, José Gomes Temporão. Entre os motivos do aumento, segundo o ministro, estão o comportamento de parte da classe média e a falta de acesso do estado a comunidades dominadas pelo tráfico. Hoje, Temporão e o governador Sérgio Cabral anunciam medidas para conter o crescimento da doença no Rio. Nas seis primeiras semanas de 2008, o número de casos no Brasil caiu 60% em relação ao mesmo período do ano passado.

- Existiram problemas burocráticos de contratação de guardas sanitários. Temos ainda informações de que parte importante da classe média do Rio não permite a entrada de agentes públicos de saúde - disse o ministro ontem, durante o anúncio dos vencedores do Prêmio Nacional da Gestão Pública 2007, no Hemo-Rio.

Enquanto o número da doença no estado dobrou, no município do Rio quase quintuplicou. Só nas oito primeiras semanas deste ano foram registrados 6.723 casos da doença. Treze localidades já enfrentam surto. A Secretaria municipal de Saúde informa que não há epidemia, mas não descarta a possibilidade de isso ocorrer este ano. Parâmetros epidemiológicos usados pela secretaria estabelecem que os lugares com surto são aqueles com média superior a 300 casos por cem mil habitantes. Entre as 13 localidades, Curicica, com 659 registros, encabeça a lista. As outras áreas são Santo Cristo, Bonsucesso, Camorim, Benfica, Saúde, Anil, Ramos, Cidade Nova, Vista Alegre, Jardim América, Jacaré e Costa Barros.

O ministro também responsabilizou a geografia e a violência do Rio pela dificuldade no combate à doença:

- Há muita comunidade em que o estado e agentes de saúde não entram por questões de violência e segurança.

A preocupação maior do ministério, segundo ele, é o aumento do número de casos da forma hemorrágica da doença, principalmente entre adolescentes e crianças do estado:

- Estamos fazendo um alerta aos médicos e aos serviços de saúde, para que eles tenham todo o cuidado no diagnóstico, para evitar que esses casos possam chegar a óbito.

Temporão ressaltou ainda que um novo tipo de vírus está circulando no estado: o 2, responsável pela epidemia de 2000. Com isso, um grupo populacional que nunca foi infectado pelo vírus, especialmente crianças e adolescentes, fica exposto.

O ministro afirmou que a União gasta R$800 milhões por ano no combate a doenças endêmicas. Mesmo com a redução dos números em nível nacional, não há o que comemorar:

- Pelo contrário, estamos prestando contas e reiterando que só dando continuidade a esse esforço poderemos comemorar algo no ano que vem.

COLABOROU: Célia Costa