Título: Convênios do Ministério do Trabalho beneficiam PDT
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 21/02/2008, O País, p. 9

ONGs que receberam verbas são ligadas a partido do ministro

SÃO PAULO. Entre dezembro de 2007 e janeiro de 2008, o Ministério do Trabalho autorizou pelo menos 16 convênios, totalizando R$90 milhões, para entidades cujos dirigentes são parentes de políticos do PDT, filiados ou doadores de campanha do partido. Pedidos de liberação de recursos feitos por deputados federais do PDT têm sido atendidos com rapidez pelo ministério comandado pelo presidente do partido, Carlos Lupi. Em alguns casos, entidades ligadas à legenda recebem a verba em até dois meses.

O dinheiro segue para as entidades ou para alunos em forma de bolsa em cursos de qualificação. A lista que relaciona entidades ao PDT é extensa. A Fundação Oscar Rudge, do Rio, foi beneficiada com um convênio de R$10,8 milhões. A presidente da entidade, Clemilce Carvalho, foi candidata a deputada federal pelo PDT no Rio.

Há pouco mais de um ano filiado ao PDT, Francisco Batista de Souza comemorava ontem os R$4,8 milhões para a entidade que preside, a Associação de Assistência São Vicente de Paulo, de Catanduva, no interior paulista.

No Maranhão, a Federação de Desenvolvimento das Organizações do Terceiro Setor no Maranhão, outra entidade beneficiada, é presidida por Marileide Rocha, mãe do secretário da Juventude do estado, Weverton Rocha. Ele encaminhou ofício ao ministério, que em seguida autorizou convênio de R$3,1 milhões para o Programa de Estímulo ao Primeiro Emprego.

Em Alagoas, o Lar São Domingos recebeu recursos. A entidade tinha como vice-presidente, até 2005, Maria Helena Russo Lessa, irmã de Ronaldo Lessa, presidente do PDT no estado.

Em 23 de outubro, o deputado João Dado (PDT-SP) intercedeu a favor da Fundação Votuporanguense de Educação e Cultura (Fuvec). Dois meses depois, o ministério autorizou o repasse de R$310 mil.

"O tempo urge e o ministro não aprovou o projeto"

Ofícios obtidos pelo GLOBO detalham o empenho dos deputados. Paulo Rubem Santiago (PDT-PE) pediu urgência na renovação do Consórcio Social da Juventude, do grupo Mulher Maravilha, em Recife. A presidente da entidade, Maria de Lourdes Araújo, em ofício encaminhado ao deputado em 5 de outubro de 2007, alertou: "O tempo urge e o ministro Carlos Lupi ainda não aprovou o projeto". Duas semanas depois, o deputado fez a solicitação ao ministério, e os R$211 mil foram liberados em dezembro.

Dirigentes da Fundação Instituto para o Desenvolvimento da Amazônia (Fidesa) procuraram o deputado Giovanni Queiroz (PDT-PA) para acelerar a liberação de R$344,1 mil. O dinheiro foi autorizado em dezembro.

Embora legais, as iniciativas dos deputados chamam a atenção pela agilidade na finalização do processo. Verbas para programas de combate a enchentes em São Paulo demoram mais de um ano para liberação.

A secretaria do Trabalho da cidade de São Paulo, administrada pelo pedetista Geraldo Vinholi, foi a interveniente do processo em favor da Associação do Verde e Proteção do Meio Ambiente (Avepema), beneficiada com R$10 milhões. Também de São Paulo, o Instituto de Pesquisa e Educação DataBrasil, que funciona no prédio da Força Sindical, presidida por Paulo Pereira da Silva, líder do PDT, fechou acordo de R$14,8 milhões, ainda que a consultoria jurídica do ministério tenha feito ressalvas ao processo. O ministério nega problemas no contrato.

Ligada ao DataBrasil, a Catalisa também está entre as beneficiadas: R$9 milhões. O dinheiro do Ministério do Trabalho também beneficiou com R$5,5 milhões do governo o Instituto Inesp de Treinamentos, também ligado ao DataBrasil. O GLOBO teve acesso a atestados em que uma entidade recomenda a outra para prestar serviço.

Já a ONG Brasil Voluntário, que recebeu R$2,7 milhões, foi doadora de campanha de Chico Leitoa (PDT) à prefeitura de Timon, no Maranhão, em 2004.