Título: Crime comum ou espionagem?
Autor: Nogueira, Danielle
Fonte: O Globo, 22/02/2008, Economia, p. 29
Divergências e disputas marcam os bastidores da investigação da Petrobras.
Uma queda-de-braço envolvendo a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e a Polícia Federal (PF) tem agitado os bastidores da investigação aberta após o desaparecimento de dados supostamente confidenciais que estavam em contêineres transportados pela Halliburton. Uma parte visível dessa disputa tem aparecido nas divergências públicas sobre a motivação dos que levaram HDs, computadores e pentes de memória: enquanto a Abin e o governo apostam em um caso claro de espionagem, na PF não se descarta furto comum - e se trabalha até mesmo com essa hipótese como principal linha de investigação.
A tese de espionagem industrial fortalece a idéia do Gabinete de Segurança Institucional e do governo de ampliar os poderes da Abin. Pelo projeto, ela teria direito também, como a Polícia Federal, de fazer escutas telefônicas com autorização judicial em casos de terrorismo, sabotagem e espionagem em áreas estratégicas. O projeto levou o diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, a afirmar ser contrário ao uso de grampos pela Abin até mesmo em investigações sobre terrorismo. Segundo Corrêa, "cabe à Abin fazer relatórios e análises de cenários futuros de interesse da Presidência, e não conduzir investigações criminais".
Para policiais federais responsáveis pelas investigações, uma série de fatores apontam para um caso de furto comum. Ninguém descarta a possibilidade de uma ação de espionagem, mas, segundo os policiais, pelo menos mais quatro casos de furtos semelhantes na Halliburton foram comunicados em 2007 aos policiais civis de Macaé. Ainda segundo os policiais, o furto foi premeditado e realizado por uma pessoa em busca de equipamentos de informática.
Esta semana, numa tentativa de melhorar o relacionamento de Paulo Lacerda, diretor da Abin, com Luiz Fernando Corrêa, da PF, uma reunião foi realizada na sede da Abin. O ministro da Justiça, Tarso Genro, foi duro e pediu o que parecia óbvio em dois setores de investigação de um mesmo governo: colaboração. Também foram discutidas medidas futuras para melhorar a segurança no transporte de dados estratégicos do governo, já que um esquema de segurança obsoleto e amador protegia os computadores com dados da Petrobras que estavam sendo transportados de uma plataforma na Bacia de Santos até a sede da multinacional americana Halliburton, em Macaé.