Título: Buratti agora nega acusações contra Palocci
Autor: Antunes, Daniela
Fonte: O Globo, 21/02/2008, O País, p. 10

Ex-secretário diz que foi coagido por promotores e volta atrás em declaração sobre propina ao ex-prefeito de Ribeirão Preto

RIBEIRÃO PRETO (SP). O advogado Rogério Buratti registrou, no 14º Tabelião de Notas de São Paulo, uma "escritura de declaração" na qual nega os depoimentos que dera entre 2005 e 2006 contra o ex-prefeito de Ribeirão Preto Antonio Palocci, hoje deputado pelo PT. Na época, Buratti aceitou o benefício da delação premiada para se livrar de prisão preventiva decretada num inquérito que investigava fraudes em licitações públicas na gestão de Palocci como prefeito da cidade de 2000 a 2002. Buratti, que foi secretário da prefeitura na primeira gestão de Palocci, diz que foi coagido pelos promotores de Ribeirão Preto e afirma serem inverídicas as versões de que o Palocci recebia propinas da empreiteira Leão & Leão para repassar o dinheiro ao diretório nacional do PT. O documento foi registrado no dia 28 de junho de 2007.

No depoimento de 19 de agosto de 2005, Buratti disse a representantes do Ministério Público e da Polícia Civil em Ribeirão Preto que a empresa Leão & Leão, responsável pela limpeza urbana e da qual ele foi presidente, destinava R$50 mil mensais a Palocci e a Ralf Barquete, que foi secretário de Fazenda. E afirmou que o dinheiro era repassado ao diretório nacional do PT. Agora, como publicou ontem o jornal "Estado de S.Paulo", Buratti diz que foi coagido a prestar o depoimento, afirmando que foi "moralmente destruído diante dos filhos e demais familiares". O documento afirma que ele "submeteu-se à vontade dos representantes do Ministério Público e da polícia" por estar preocupado com a saúde de sua mãe.

Buratti prestou os depoimentos quando Palocci ocupava o Ministério da Fazenda. Em trechos do documento no tabelionato de São Paulo, ele diz que foi "exposto à execração pública" e se disse intimidado pela cobertura do caso pela imprensa.

- É mentira de Buratti - afirma Benedito Antônio Valencise, delegado Seccional de Polícia em Ribeirão Preto.

Promotor diz que processo tem provas materiais do crime

O delegado acompanhou o primeiro depoimento de Buratti e afirma que ele foi intimado outras vezes, por telefone, e confirmou o depoimento inicial.

O promotor Aroldo Costa disse que as novas declarações de Buratti não têm validade e não servirão para modificar o resultado do processo que investiga as fraudes nas concorrências do lixo na cidade. Segundo o promotor, o processo tem outras provas materiais de crime.

José Roberto Battochio, advogado de Palocci, diz que pediu o arquivamento do processo no Superior Tribunal Federal na semana passada e que desconhecia o documento registrado por Buratti.

Os promotores Sebastião Sérgio da Silveira e Luiz Henrique Pacini Costa foram procurados para comentar os termos da declaração de Buratti, mas não retornaram os pedidos de entrevista. A secretária de Roberto Telhada, advogado de Buratti, informou que ele estava no Rio e não retornou a ligação até o fechamento desta edição. A irmã de Buratti disse que ele se recupera de uma cirurgia e está incomunicável.