Título: Assembléia dará sinais do novo rumo de Cuba
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Fonte: O Globo, 22/02/2008, O Mundo, p. 34

Analistas apostam em Raúl mas afirmam que composição do novo Conselho de Estado pode dar pistas de para onde vai o país.

HAVANA. Após o impacto do anúncio da saída de Fidel Castro do poder, os olhos dos cubanos e do mundo se voltam agora para a Assembléia Nacional, que no domingo escolherá o novo Conselho de Estado e seu presidente - o sucessor do líder cubano. Poucos se arriscam a apostar em outro nome que não seja o de Raúl Castro, que vinha desempenhando o cargo interinamente. Mas a nova composição do conselho pode dar indícios do caminho que Cuba trilhará nos próximos anos.

Os 614 deputados eleitos em janeiro para a Assembléia Nacional vão se reunir na manhã de domingo para aprovar a lista de 31 integrantes do Conselho de Estado, um primeiro vice-presidente e mais cinco segundos vice-presidentes.

Raúl, um general de 76 anos, ministro da Defesa e primeiro-vice-presidente, aparece como o nome capaz de garantir a sobrevivência do sistema socialista no país e introduzir gradualmente reformas econômicas que melhorem a vida dos 11 milhões de cubanos.

- Ele representa a estabilidade e a continuidade num momento de muita ansiedade e incerteza - observou Frank Mora, analista político do National War College, em Washington.

Mas não se sabe se seriam divididos os dois cargos ocupados por Fidel como chefe de Estado - a presidência do Conselho de Estado e a presidência do Conselho de Ministros, que será formado mais tarde.

Escolha de Carlos Lage seria ousada, dizem analistas

Apesar de o nome de Raúl ser o mais forte para a presidência do Conselho de Estado, poderia ser escolhido um integrante mais jovem do regime, como o vice-presidente Carlos Lage ou o chanceler Felipe Pérez Roque.

Lage, de 56 anos, foi o arquiteto das limitadas reformas que abriram Cuba ao investimento estrangeiro e ao turismo em meio à crise após o colapso da União Soviética, na década de 1990. Mas observadores estrangeiros acham que seria uma decisão ousada demais, e acreditam que, com a ascensão de Raúl, Lage pode andar mais uma casa e ser nomeado primeiro-vice-presidente, com a função de cuidar do dia-a-dia do governo. Há ainda quem aposte na criação do cargo de premier e na indicação de Lage para ele.

- Acho que há uma boa chance de Carlos Lage se tornar um primeiro-ministro, de fato ou de direito, e uma chance mais remota de se tornar presidente com Raúl manejando as cordas nos bastidores - disse Brian Latell, ex-analista da CIA e autor do livro "After Fidel".

Mandato de Raúl é visto como de transição

Outro visto como estrela em ascensão é o ministro do Exterior, Felipe Perez Roque, um engenheiro eletrônico de 42 anos que foi secretário pessoal de Fidel e hoje é um forte candidato a se tornar um dos vice-presidentes. Ricardo Alarcón, presidente da Assembléia Nacional, é outro que pode subir para uma posição mais influente. Mas analistas lembram que o próprio Fidel manterá forte influência sobre o novo governo, à medida que sua saúde permitir.

- Tenho a sensação de que o comandante não vai se retirar da cena política imediatamente - disse Elizardo Sánchez, um crítico do regime cubano.

Tanto quanto à figura do presidente, especialistas estarão atentos para a composição do novo conselho, para ver que papéis terão elementos de tendência reformista, em busca de indícios para os próximos cinco anos. Não se esperam mudanças drásticas, mas a subida ou queda de protegidos de Fidel podem sinalizar mudanças.

- Devido à idade (de Raúl), todos sabem que será um mandato transitório, e a transferência à próxima geração ocorrerá mais adiante - disse Bert Hoffmann, especialista em América Latina do German Institute of Global and Area Studies.