Título: No setor elétrico, só o que sei é ligar a luz
Autor: Moreno, Jorge Bastos
Fonte: O Globo, 23/02/2008, O País, p. 8

Senador nega aborrecimento como causa de licença, diz que nunca foi tão bem tratado por um presidente e elogia Dilma.

Em entrevista à Rádio do Moreno, o senador José Sarney (PMDB-AP) descartou motivações políticas para sua licença de quatro meses do Senado. Ao negar que esteja aborrecido com Lula, disse que nenhum presidente da República o tratou tão bem. Elogiou a ministra Dilma Rousseff, a quem se atribui uma queda-de-braço com ele na disputa por cargos no Ministério das Minas e Energia. "No setor elétrico, a única coisa que eu sei é ligar a luz. Não tenho nenhum outro interesse no setor, além de saber se o interruptor da minha casa está funcionando."

Sarney fala de Barack Obama a Fidel Castro. E analisa as eventuais candidaturas presidenciais de Dilma e dos governadores tucanos José Serra e Aécio Neves.

Jorge Bastos Moreno

O fato de o senhor ter anunciado que ia pedir licença do Senado provocou grande alvoroço.

JOSÉ SARNEY: Isso é devido a um período de entressafra de notícia. Estou realmente cansado, não tive férias, o ano passado foi pesado, teve o problema da fratura do braço da Roseana, foi um período de muita preocupação. Resolvi aproveitar este momento de calmaria no Congresso para passar quatro meses fora, terminando coisas que eu estou com dificuldade de terminar por falta de tempo.

Bastou isso para as pessoas especularem que o senhor estaria chateado com o presidente Lula, com a ministra Dilma...

SARNEY: Não tem nada disso. Estou muito bem com o presidente Lula. De todos os presidentes que conheci, é o que melhor me trata, é o que tem maior deferência comigo, o maior respeito por mim, a maior delicadeza comigo. Não tenho problema com o presidente Lula. A ministra Dilma também é minha amiga, sou um admirador dela. Ela é uma servidora pública exemplar, se dedica totalmente a essa função da administração pública, procurando interferir no sentido de melhorar as coisas, de que as coisas andem, como coordenadora do PAC.

Dizem que ela teria batido de frente com o senhor na indicação de cargos do setor elétrico.

SARNEY: Isso não existe. Na minha idade, com a minha responsabilidade de ex-presidente da República, eu andar atrás de cargo, pedindo cargo, indicando gente. Isso simplesmente não existe. Não estou em disputa com a ministra Dilma sobre cargo algum. Posso é opinar sobre as pessoas, algumas vezes opino, porque conheço todo mundo. Mas nunca indiquei e até não me pediram opinião sobre ninguém. Até porque, no setor elétrico, a única coisa que eu sei é ligar a luz. Eu não tenho nenhum outro interesse no setor, além de saber se o interruptor da minha casa está funcionando.

Se Lula chegar ao fim do mandato com a popularidade atual, acha que ele vai, usando jargão político, eleger um poste?

SARNEY: Não. Um poste ninguém elege. Isso não existe. O Lula sabe disso. Agora, que o apoio dele vai pesar decisivamente na escolha do futuro presidente, acredito que sim. Diminuiu a pobreza do país, a parte social foi realmente alavancada pelo seu governo... Isso tem reflexo nas massas também. Não só na classe média e nas elites. Um líder com essa densidade terá sempre grandes condições de influenciar nas eleições.

Acha possível um candidato que não seja do PT?

SARNEY: Quando se tem uma base com alianças, evidentemente que é possível, sim. Não acredito que, no primeiro turno, o PT abdique de ter candidato.