Título: Novo gigante no mercado
Autor: Rangel, Juliana;
Fonte: O Globo, 21/02/2008, Economia, p. 23
Fusão de Bovespa e BM&F criará a 4ª maior bolsa do mundo e a 2ª das Américas
e Felipe Frisch
Aunificação dos negócios da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) poderá resultar na quarta maior bolsa do mundo em valor de mercado, entre as que têm capital aberto, e a segunda das Américas. A nova empresa valeria em torno de US$20,340 bilhões, superando a Bolsa de Nova York, avaliada em US$17,919 bilhões, segundo levantamento feito pela Economática e com dados da Bloomberg. Em primeiro lugar no ranking mundial está a Bolsa de Frankfurt, avaliada em US$34,384 bilhões (multiplicando o valor das ações pela quantidade delas), seguida pela Bolsa de Mercadorias de Chicago (US$27,767 bilhões) e pela Bolsa de Hong Kong (US$21,624 bilhões). A expectativa do negócio fez com que as ações das empresas brasileiras disparassem ontem no mercado paulista. Os papéis da Bovespa Holding subiram 10,18%, para R$26,50. Os da BM&F, 15,40%, para R$18,20.
Segundo analistas, o mais provável é que, em vez de fusão, uma bolsa compre a outra. Isso porque, do ponto de vista fiscal, o negócio sairia mais barato.
- A Receita Federal permite que, no caso de uma aquisição, a compradora abata do seu Imposto de Renda a diferença que pagou entre o valor patrimonial e o de mercado da empresa comprada. Ou seja, o ágio - explica um especialista que preferiu não se identificar.
Entre as possibilidades avaliadas, a mais consistente, de acordo com fontes, é a de que a Bovespa, na qual são negociadas ações de empresas, compre a BM&F. Apesar de negociar um volume diário menor, em torno de R$6 bilhões, contra R$90 bilhões em contratos da bolsa de futuros, a Bovespa tem indicadores financeiros melhores. Até o terceiro trimestre do ano passado, sua receita foi de R$600 milhões, contra R$430 milhões da BM&F, e o lucro líquido, de R$303 milhões e R$R$222 milhões, respectivamente. Sem contar a diferença no valor de mercado, de US$10,786 bilhões da Bovespa contra US$9,554 bilhões da BM&F, de acordo com a Economática.
Há ainda outra alternativa em estudo: a criação de uma holding que incorporaria as duas empresas. Neste caso, também haveria ganho fiscal.
Para o gerente de análise de renda variável da Modal Asset, Eduardo Roche, os investidores sairão ganhando com o negócio. O especialista acredita que haverá ganho de liquidez para as ações, na medida em que todos os negócios serão unificados em um único ambiente:
- São operações complementares. Era esperado que a Bovespa se unisse à BM&F, num movimento de consolidação que já aconteceu em toda a Europa.
Na Europa, a Euronext congrega as bolsas de Paris, Amsterdã, Lisboa e Bruxelas e se fundiu com a Bolsa de Nova York no ano passado. Na semana passada, foi a vez de as Bolsas de Toronto e de Montreal, no Canadá, anunciarem a união, que se concretizará até o fim de abril deste ano.
- Analisando bem, não havia muito mais possibilidades de fusão na América Latina, considerando que as outras bolsas da região são muito pequenas - acrescenta Roche.
O volume médio de negociação da Bolsa Mexicana de Valores, segunda maior da região, é de US$500 milhões ao dia.
- Esse é o valor médio que apenas a Vale, sozinha, movimenta em um bom dia no Brasil - compara.
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O gerente de uma grande corretora, no entanto, diz que haveria possibilidade de o Brasil concentrar ainda mais o fluxo de investidores estrangeiros para a América Latina. E não descarta a possibilidade de fusão com bolsas menores, como Chile, México e Argentina.
- A tendência mundial é de que as empresas se concentrem no que fazem. E isso passa por escala. Se você consegue ter uma estrutura com um número maior de produtos e atender uma quantidade maior de clientes, será melhor para o acionista.
De acordo com o Banco Central (BC), nos primeiros nove dias úteis de fevereiro, o fluxo cambial - movimentação de entrada e saída de moeda estrangeira - estava positivo em US$1,048 bilhão. Em janeiro, a conta teve déficit de US$2,357 bilhões. No ano, a saída de recursos supera o ingresso em US$1,309 bilhão. Para especialistas, a tendência no curto prazo é que seja mantida a entrada de moeda estrangeira, especialmente decorrentes de Investimento Estrangeiro Direto (IED) e da balança comercial.
A conta financeira, que registra os movimentos dos investimentos em bolsa, títulos e IED, continuou negativa neste mês, em US$434 milhões. Porém, o volume é considerado pequeno e indica que a fuga tem desacelerado. Em janeiro, por exemplo, o saldo havia ficado negativo em US$6,530 bilhões, influenciado pela crise internacional e também pela forte remessa de lucros e dividendos que as empresas estrangeiras normalmente fazem nesta época.
Ontem, o principal indicador da Bovespa, o Ibovespa, fechou em alta de 2,33%, impulsionado pelas ações do setor de mineração e de siderurgia. Já o dólar caiu mais e bateu a menor cotação desde 23 de março de 2000. A moeda fechou em queda de 0,46%, para R$1,725.
Os papéis preferenciais (PN) da Vale subiram 3,35%, para R$50,25, a maior cotação do ano, ainda em função dos reajustes do minério de ferro. A Vale anunciou ontem que concluiu a negociação com a Ilva S.p.A. (Ilva), a maior siderúrgica da Itália, para aumentar seus preços em 65% este ano. No início da semana, a empresa divulgou acordos com cinco siderúrgicas japonesas e a Posco, sul-coreana, para reajustar o preço em pelo menos 65%.
COLABOROU Patrícia Duarte