Título: China decide acelerar valorizações do yuan
Autor: Scofield Jr., Gilberto; Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 21/02/2008, Economia, p. 25
País está preocupado com aumentos de preços e economia aquecida. Moeda acumula alta de 2,2% este ano
PEQUIM e SÃO PAULO. Assustado com um crescimento econômico que não dá sinais de desacelerar nem após a crise americana e com uma taxa de inflação que atingiu, em janeiro, 7,1% ante o mesmo mês do ano passado - a maior dos últimos 11 anos -, o Banco Popular da China, o BC do país, decidiu acelerar as minivalorizações diárias que vem promovendo no yuan desde que deixou a moeda flutuar, em julho de 2005.
Ontem, a moeda chinesa fechou cotada a 7,14 por dólar, acumulando alta de 2,2% no ano (após 7% em 2007). O aumento da inflação foi ainda agravado pelas tempestades de neve que atingem o país há mais de um mês, as piores dos últimos 50 anos, afetando colheitas e ajudando a elevar os preços.
O BC afirmou, em nota, que será "inovador" na resolução dos problemas enfrentados pela economia chinesa, especialmente a inflação e o excesso de dinheiro em circulação na economia. Segundo o banco, apesar de a China ter elevado juros seis vezes desde o ano passado, além de ter aumentado o nível de compulsório nos bancos, novas altas de juros podem atrair mais capital especulativo no momento em que os EUA reduzem suas taxas.
Entre as vantagens, redução de atritos comerciais
A apreciação mais rápida do yuan, diz o banco, tem várias vantagens. A principal é baratear as importações, o que pode ajudar a segurar preços no país. Além disso, o encarecimento (e a redução) das exportações reduz a necessidade de injeção de yuans pelo governo na hora de trocar dólares por moeda chinesa. O câmbio valorizado diminui ainda os atritos com os principais parceiros comerciais: EUA e União Européia.
Reportagens nos principais jornais estatais chineses dizem que o yuan deve se valorizar entre 7% e 10% este ano.
Analista: Brasil não deve se beneficiar muito da decisão
A maior apreciação do yuan deve abrir caminho para que outros países aumentem suas exportações para a China, algo desejável no momento em que os EUA dão sinais mais fortes de enfraquecimento. Mas os efeitos não serão imediatos e vão variar entre os países. Para o coordenador do Grupo de Análise e Previsões do Ipea, Marcelo Nonnenberg, os asiáticos, grandes exportadores de produtos manufaturados, devem ser os maiores beneficiados.
- O Brasil, assim como outros países que têm nas commodities seu eixo principal, não deve tirar tanto proveito da decisão do governo chinês - disse Nonnenberg.
Para o economista Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV) e ex-presidente do BC, o "artificialismo" do governo chinês na administração do câmbio levou à atual pressão inflacionária.
- Se o câmbio na China fosse flexível, o yuan teria valorizado tanto quanto o real se valorizou no Brasil - disse.
O economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale, afirma que os efeitos da mudança na China vão depender da magnitude de mudança no câmbio. A princípio, ele diz não esperar "nada muito dramático".