Título: Contêiner tinha dados de megacampo de gás
Autor: Nogueira, Danielle
Fonte: O Globo, 21/02/2008, Economia, p. 28

Sonda de onde saíram computadores furtados fez perfuração em Júpiter. Ladrões levaram mais material que o divulgado

MACAÉ e RIO. O contêiner-escritório de onde foram furtados os equipamentos da Petrobras levava informações sobre a reserva gigante de gás natural de Júpiter. Segundo fontes da Polícia Federal (PF), o contêiner partiu do navio-sonda NS-21, ou Ocean Clipper, que estava na Bacia de Santos. Esse navio-sonda fez perfurações em Júpiter. A revelação aumenta as suspeitas de que as informações levadas eram sobre a jazida que pode ajudar o Brasil a atingir a auto-suficiência em gás natural.

O NS-21 pertence à empresa Diamond, representada no Brasil pela Brasdrill. Segundo dados do site da Agência Nacional do Petróleo, a sonda fez perfuração no poço 1-BRSA-559-RJS. Foi este o poço anunciado pela Petrobras, em 21 de janeiro, como a reserva de Júpiter. Ele fica a 37 quilômetros do megacampo de petróleo de Tupi e está no bloco BM-S-24, explorado pela Petrobras (80%) e pela portuguesa Galp (20%). O navio-sonda já está há cerca de uma semana no Estaleiro Mauá, em Niterói, para manutenção e modernização.

Segundo reportagem do "Jornal Nacional", da TV Globo, que teve acesso a um registro do depoimento do funcionário da Halliburton Guilherme da Silva Vieira, a lista de materiais levada é maior que a anunciada pela PF. Além de quatro computadores, dois discos rígidos e dois pentes de memória, teriam sumido um computador, uma impressora e um gravador de DVD. A PF disse ao GLOBO que esse registro é da Polícia Civil, em uma queixa apresentada pela Halliburton na 123ª DP. Na terça-feira, o superintendente da PF no Rio, Valdinho Caetano, afirmou que os ladrões haviam dispensado outros equipamentos do contêiner, como computadores, por isso, descartava furto comum.

Como a Halliburton estava à frente da perfuração, os computadores eram sua responsabilidade. O contêiner foi transportado do navio-sonda para o Porto do Rio em um rebocador contratado pela Petrobras, que saiu da Bacia de Santos em 18 de janeiro e chegou dia 25. Até dia 29, o contêiner ficou em um terminal privado administrado pela Poliportos, que não tem instalações alfandegárias e está numa área fora da responsabilidade das Docas. Segundo as Docas, a Poliportos é um local de carga e descarga da Petrobras. O GLOBO não conseguiu contato com a Poliportos.

Ontem, uma equipe da PF de Rio, Macaé e Brasília passou o dia coletando informações na zona portuária do Rio, local onde acredita ser mais provável que tenha ocorrido o furto, e à noite voltou a Macaé. O furto também poderia ter acontecido no posto Mucelin, em Itaboraí, onde a carreta que levou o contêiner a Macaé pernoitou, e na Halliburton, em Macaé.

O dono do posto Mucelin, José Cláudio Mucelin, disse que o fluxo de caminhões no pátio à noite é muito grande, e não tem como confirmar se o veículo da Transmagno pernoitou no local. Segundo Mucelin, já houve casos de roubo a caminhões no posto, que fica em local isolado, mas ele disse que isso é raro e não ocorreu recentemente:

- Quem faz a segurança somos nós mesmos. É fraca, mas a gente faz alguma.

Ontem também foram ouvidas sete pessoas: três funcionários da Petrobras que trabalham no terminal portuário em Imbetiba, Macaé, três da Halliburton e um da Transmagno. Eles não tiveram, necessariamente, contato com o contêiner. Os depoimentos são tomados pela delegada da PF Carla Dolinski, que preside o inquérito.

COLABORARAM Antônio Werneck, Ramona Ordoñez e Mariana Schreiber