Título: Paulo Nogueira: uma surpresa para gerações
Autor: Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 23/02/2008, Economia, p. 35

Economista que assessorou governo na moratória de 87 não imaginava ver este momento histórico.

SÃO PAULO. O diretor do Brasil no Fundo Internacional (FMI), Paulo Nogueira Batista Júnior, classificou como um marco histórico o Brasil ter se tornado um credor internacional. Para um país que nasceu endividado - pois ao se tornar independente herdou dívidas do governo português - o feito anunciado anteontem pelo Banco Central, mesmo já esperado pelos economistas, é muito importante, frisou.

- O Brasil era um país famoso por suas crises recorrentes. Foi assim no século XIX, no século XX. Agora começamos o século XXI num outro diapasão - comemorou.

Assessor especial para assuntos de dívida externa na gestão de Dilson Funaro na Fazenda, Paulo Nogueira teve papel decisivo na decretação da moratória de 1987. E confessa que para a sua geração de economistas o anúncio do BC era algo impensável.

- Sou de uma geração que não acreditava que assistiria a isso. É algo que há 20 anos eu diria que não aconteceria durante minha vida.

O economista disse ainda que o fato ganha importância especial neste momento de incertezas e turbulências no mercado internacional. Segundo ele, ontem a informação da nova condição de credor do Brasil era o destaque no boletim informativo que circula internamente na sede do FMI, em Washington.

- É mais uma informação positiva na área externa e exibir indicadores favoráveis neste momento é bom.

Mas Paulo Nogueira advertiu que as contas externas envolvem outros passivos não contabilizados na dívida, como os investimentos diretos estrangeiros e os de portfólio. Por isso, o país não pode baixar a guarda na área externa.

- Vamos voltar a ter déficit em conta corrente este ano, mas não pode se deixar que ele cresça muito nos próximos anos. (Ronaldo D"Ercole)