Título: Engenho em Pernambuco é interditado
Autor: Brasiliense, Ronaldo
Fonte: O Globo, 20/02/2008, O País, p. 4

Deputado é acusado de manter trabalhadores em condições desumanas

RECIFE. O Ministério do Trabalho e do Emprego interditou o engenho Vida Nova, em Água Preta, a 130 quilômetros de Recife. O Ministério Público do Trabalho informou que o engenho pertence ao deputado estadual Marco Antônio Barreto (PMN), da Comissão de Agricultura e Política Rural da Assembléia Legislativa. A procuradora Maria Auxiliadora de Souza acusou o deputado de manter os empregados em condições desumanas de trabalho.

Estão suspensos o corte e a colheita de cana na propriedade. De acordo com a Procuradoria do Trabalho da 6ª Região, é o primeiro caso de interdição de engenho no Brasil.

As informações foram divulgadas pelo Ministério Público do Trabalho, após inspeção realizada semana passada no engenho, depois de um acidente de ônibus que matou dois lavradores e deixou 31 feridos. O desastre ocorreu no último dia 12 e, segundo a procuradora Maria Auxiliadora de Souza, o coletivo não era adaptado para o transporte e levava número maior de passageiros do que a capacidade, e os mesmos viajavam carregando instrumentos cortantes de trabalho. Pela legislação, foices, facões e enxadas devem ser levados em compartimento isolado.

Junto com auditores fiscais e sindicalistas, a procuradora constatou que os cortadores de cana trabalhavam sem equipamentos exigidos pela lei - botas, chapéu, luvas. Muitos estavam descalços, sujeitos a ferimentos provocados pelas folhas cortantes da cana-de-açúcar. Eles não possuíam carteira assinada e recebiam remuneração inferior ao estipulado para a categoria nas convenções de trabalho. De acordo com o Ministério Público, os lavradores eram recrutados no município de Joaquim Nabuco, do qual Barreto já foi prefeito.

O deputado informou, por intermédio do seu advogado, que o engenho é do pai dele. No entanto, conforme a Procuradoria do Trabalho, embora o deputado alegue que o engenho está sob responsabilidade do seu pai, na realidade ele era quem levava o dinheiro para um funcionário pagar os lavradores.