Título: Oposição pede outra CPI, e Jucá admite acordo
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Fonte: O Globo, 20/02/2008, O País, p. 5

Líder do governo pedirá intervenção de Lula para convencer o PT, que ainda resiste a dividir comando da comissão mista

Gerson Camarotti, Adriana Vasconcelos e Maria Lima

BRASÍLIA. Sem consenso no Congresso, os líderes da base governista querem transferir para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a tarefa de decidir entre um acordo com a oposição, para que seja instalada apenas uma CPI do Cartão Corporativo, ou partir para o enfrentamento e enfrentar duas CPIs sobre o mesmo assunto: uma mista e outra só no Senado. Nos bastidores, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), pediu para que Lula interceda junto ao PT e, com isso, possibilite um entendimento, dando à oposição um dos cargos de comando da CPI mista. Ontem à tarde, numa ação silenciosa, a oposição no Senado recolheu 33 assinaturas para criar, a qualquer momento, uma investigação só de senadores.

- Vou conversar com o presidente. Mas não vejo motivo para que não haja um entendimento. É possível fechar um acordo. Basta o PMDB abrir mão da indicação - disse Jucá.

Para pressionar o governo, PSDB e DEM encaminharam ontem o requerimento da CPI exclusiva no Senado, mas para investigar os gastos de pequenas despesas do governo a partir de de 2001, e não 1998, como propõe a CPI mista. O movimento foi interpretado como uma forma da oposição pôr "a faca no pescoço" do governo para conseguir presidir a CPI. Nesse caso, o PMDB teria que abrir mão da presidência da CPI, que já fez a indicação do senador Neuto de Conto (PMDB-SC).

- Quem tem que abrir mão do cargo de presidente da CPI é o PMDB. Não, eu! Refleti muito para aceitar. Portanto, quando disse sim, era para valer. Se houver acordo, cabe ao partido justificar o fato de ficar sem o cargo - reagiu Neuto de Conto.

"Ou o governo negocia ou haverá CPI exclusiva"

Apesar das articulações de Jucá, setores do PT ainda resistiam ontem em dividir o comando com a oposição. No final do dia, porém, o líder do PT na Câmara, Maurício Rands (PE), já não estava mais tão irredutível:

- A minha posição e a do líder do governo, Henrique Fontana (PT-RS), aqui na Câmara, é manter o critério da proporcionalidade. Mas, se o líder do governo no Senado quiser entregar a presidência da CPI, tudo bem. Não vamos nunca ser obstáculos a um entendimento.

No Senado, a oposição decidiu radicalizar.

- Não tem saída. Ou o governo negocia com a oposição e cede o cargo, ou haverá uma CPI exclusiva no Senado - avisou o senador ACM Júnior (DEM-BA), um dos autores do requerimento da nova CPI.

A exigência da oposição deixou os senadores petistas irritados. A líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), lembrou que o governo havia proposto uma CPI exclusiva no Senado e que só decidiu fazer uma CPI mista após entendimento com o PSDB.

- Não vamos entrar nessa insanidade da oposição.