Título: McCain vive dias de calvário
Autor: Martins, Marília
Fonte: O Globo, 23/02/2008, O Mundo, p. 39

Assessor é indiciado e outros são acusados de integrar lobbies.

NOVA YORK. O senador John McCain vai ter mesmo muito o que explicar ao seu eleitorado conservador, sobretudo numa corrida eleitoral que parece regida pelo discurso ¿anti-Washington¿ de seus adversários democratas. Após ver o ¿New York Times¿ publicar a suspeita de que o candidato republicano teve um romance com uma lobista do setor de telecomunicações, Vicki Iserman, o ¿Washington Post¿ veio com a denúncia de que alguns dos principais assessores de campanha de McCain são lobistas.

O gerente da campanha de McCain, Rick Davis, é co-fundador de uma firma de lobbies, cujos clientes são grandes empresas como a Verizon e a SBC Telecommunications. Um de seus principais estrategistas, Charles Black Jr, é presidente de um dos maiores escritórios de lobby em Washington, BKSH e Associados, que representa empresas do porte da AT&T, da Alcoa, do banco JPMorgan e da companhia aérea U.S.Airways. Outros conselheiros como Steve Schmidt e Mark McKinnon trabalham em firmas que fizeram lobbies para Land O¿Lakes, USTPublic Affairs e Dell.

Para quem se apresenta como um candidato antilobista, as revelações dos dois jornais americanos causaram embaraço. E para culminar uma sexta-feira em que muito se falou de uma crise em sua campanha, McCain recebeu a notícia de que um dos organizadores de sua campanha no Arizona foi indiciado por extorsão, fraude e lavagem de dinheiro. Rick Renzi, que é deputado republicano do Arizona, um dos próximos assessores do senador, vai responder a processo na Justiça por tentar vender terrenos do estado.

Casa Branca acusa ¿NYT¿ de tentar denegrir os republicanos

O pedido de indiciamento tem mais de 26 páginas e o volume de dinheiro envolvido em negócios fraudulentos chega de US$4,5 milhões. As investigações sobre o caso vinham sendo feitas pela polícia desde meados do ano passado. Em agosto de 2007, Renzi disse que não buscaria a reeleição. E, agora, seu indiciamento expõe a ligação política com o candidato republicano.

Em entrevista coletiva, ontem, em Indianápolis, McCain defendeu seus assessores:

¿ Meus auxiliares são todos homens honrados que nunca se envolveram em corrupção. Tenho muito orgulho de tê-los em minha campanha. Eles têm o direito constitucional de trabalharam para representar empresas americanas. O problema não é trabalhar num grande escritório e sim agir de forma a corromper o sistema a seu favor. E isto nenhum deles fez. Portanto, estou tranqüilo ¿ disse McCain em Indianápolis, sem, no entanto, responder às perguntas sobre o indiciamento de Renzi.

A Casa Branca saiu em defesa de McCain. O secretário de imprensa Scott Stanzel acusou o ¿The New York Times¿ de tentar desmoralizar a campanha republicana:

¿ Vemos sempre o jornal ¿New York Times¿ tentar lançar bomba contra o candidato republicano ¿ disse Stanzel. (Marília Martins)