Título: Hillary busca reencontrar o caminho
Autor: Martins, Marília
Fonte: O Globo, 23/02/2008, O Mundo, p. 39

Pré-candidata democrata passa dia negando que esteja pensando em desistir da disputa com Obama.

Depois de ser considerada durante meses a candidata favorita do Partido Democrata, Hillary Clinton enfrenta agora a fase mais crítica da campanha à Casa Branca. Ontem, um dia após o debate em que teria de tentar nocautear Barack Obama, seu adversário pela indicação para a disputa presidencial, a senadora não só teve de encarar o fato de ter no máximo empatado a discussão como passar o dia refreando rumores de que estaria se preparando para desistir.

A ex-primeira-dama, depois de derrotas seguidas para Obama em dez prévias democratas, precisa de vitórias convincentes nas primárias do dia 4 de março, principalmente nos estados de Texas e Ohio. Porém, o debate pode não ter ajudado a candidata.

¿ Hillary é uma pessoa prática, concentrada no desenho de programas. Mas falta carisma a ela ¿ disse Erwin Hargrove, analista da Universidade Vanderbilt. ¿ Obama mostrou ser um político com maior capacidade de se conectar com as pessoas.

Durante o debate, a pré-candidata tentou marcar diferenças em relação a Obama em questões como os planos de saúde. Mas evitou ataques, que a fizeram perder pontos em debates anteriores. Quando acusou o oponente de ter plagiado frases de um político (que, na verdade, é um dos chefes da campanha de Obama), chegou a ser vaiada pelo público.

Obama cresce em Texas e Ohio

Curiosamente, o que foi considerado por muitos o melhor momento de Hillary no debate foi o que deu a maior dor de cabeça a ela ontem. Ao ser perguntada sobre qual foi a maior crise de sua vida e como a superou, ela se referiu indiretamente ao adultério cometido por seu marido, o então presidente dos EUA Bill Clinton. No encerramento, ela disse:

¿ Não importa o que acontecer, vamos ficar bem. Temos um forte apoio de nossas famílias e nossos amigos. Só espero que nós possamos dizer o mesmo sobre o povo americano.

Muitos consideraram que a frase era uma espécie de despedida da campanha. A pré-candidata participou de três entrevistas em canais de TV na manhã de ontem, e teve de responder em cada uma delas se estava desistindo da corrida:

¿ Não, claro que não. É um reconhecimento que nós dois (ela e Obama) estamos próximos de trazer uma mudança histórica.

Coincidentemente, as frases de Hillary foram praticamente iguais às de John Edwards em seu último debate, antes da Superterça, no início do mês. Dias depois, ele abandonou a disputa. Até mesmo Bill Clinton já afirmou que Hillary tem de vencer no Texas e em Ohio. O problema é que pesquisas divulgadas ontem indicam que Obama vem crescendo naqueles estados. Numa pesquisa Washington Post/ABC News, ela tem 48% no Texas, tecnicamente empatada com Obama, que tem 47%. Há poucas semanas, Hillary tinha mais de dez pontos de vantagem. Em Ohio, ela lidera por 50% a 43% ¿ mas a vantagem também já foi maior lá.

Outra má notícia para ela é o aparente início de uma debandada dos superdelegados democratas. Segundo a agência de notícias AP, Hillary continua liderando entre eles (241 a 181), mas nas últimas duas semanas perdeu dois na soma total, enquanto Obama cresceu 25.

¿ Desta vez, o tempo está a favor de Obama. Vamos investir muito tempo no Texas, organizando eventos e recrutando voluntários. Estamos fazendo as contas e já temos mais de 327 mil doadores em fevereiro, com mais de US$46 milhões em 21 dias de arrecadação. Vamos chegar aos US$50 milhões em fevereiro ¿ avalia Patrick Ruffini, um dos gerentes de levantamento de recursos de Obama.

Assessores de Hillary admitem que ela deverá fechar o mês de fevereiro com números de arrecadação bem mais baixos, por volta de US$30 milhões. A diferença nas campanhas de TV dos estados será notada pela falta de recursos. Sua campanha começou fevereiro com cerca de US$7 milhões em dívidas e estima que terá recursos para chegar apenas a 4 de março.

¿ Ainda estamos na luta, nada está decidido até que os eleitores votem no dia 4 de março. A avaliação da equipe é de que Hillary foi muito bem no debate, atacou de forma suave mas decidida e no fim teve um grande momento. Hoje, muitos espectadores devem estar se perguntando sobre a experiência de vida de cada candidato. Hillary mostrou sensibilidade e decisão ¿ avalia Howard Wolson, assessor de Hillary.

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