Título: Oposição se diz desconfiada do projeto
Autor: Beck, Martha; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 27/02/2008, O País, p. 30

Líderes afirmam que só ficarão satisfeitos com cortes de impostos e criticam superficialidade

BRASÍLIA. Os líderes e dirigentes da oposição saíram ontem da reunião com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, desconfiados da real intenção do governo de fazer uma reforma tributária, que implicaria redução do peso dos impostos na sociedade. No encontro, além da garantia de que o governo mantém a proposta de redução da contribuição previdenciária patronal, o ministro garantiu que não haverá aumento da carga tributária. Mas a oposição quer mais: a redução dessa carga, ou seja, do peso dos impostos no bolso do contribuinte.

Mesmo com a garantia de Mantega, a oposição desconfia de que o governo, após desonerar alguns setores, aumentará outros impostos.

Na reunião com Mantega, líderes e dirigentes da oposição também não viram com bons olhos o que chamaram de superficialidade da proposta. Para o PSDB, se o governo quer mesmo aprovar a reforma, tem que parar de editar medidas provisórias. Para o DEM, o Planalto não pode ceder às pressões - de sindicalistas, por exemplo - e precisa mobilizar sua base aliada para votar.

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), disse que o governo precisa "zerar" o envio de medidas provisórias ao Congresso, se quiser aprovar a reforma tributária. Também propôs a retirada do Congresso da MP que cria a TV pública.

- Somos contra a TV pública e contra a TV pública por medida provisória. Para praticar a reforma, o governo precisa zerar o envio de MPs ao Congresso. Se continuarem editando MPs, eles não querem a reforma. Gato escaldado tem medo de água fria.

O líder do DEM na Câmara, ACM Neto (BA), disse que Mantega confirmou que a proposta de desoneração da folha de pagamentos das empresas será mantida na reforma tributária. Mas afirmou que a proposta apresentada pelo ministro é acanhada em relação à redução da carga tributária:

- A reforma precisa gerar redução da carga tributária. E, se o governo começar a fazer mudanças antes da proposta chegar ao Congresso, a reforma não vai andar. Existem pressões de todos os lados - afirmou ACM Neto.

A deputada Luciana Genro (PSOL-RS) considerou importante a desoneração da folha de pagamento das empresas. Mas sugeriu que a proposta também onere outros setores que têm lucros muito elevados, mas carga tributária baixa, como os bancos.

A senadora Kátia Abreu (DEM-GO) expressou a desconfiança do seu partido em relação às intenções do governo, frisando que foi uma apresentação sem números ou documentos.

- A oposição quer saber se desta vez a proposta de reforma tributária é para valer - declarou a senadora.

O ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, e o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), que também participaram da reunião, garantiram que a proposta de reforma é para valer. Segundo Múcio, o governo não se prestaria a fazer "jogo de cena" com um tema tão importante para o país:

- Temos consciência de que não é possível fazer reforma apenas com o governo. Essa é uma discussão a longo prazo - afirmou.