Título: Amazônia: 300 policiais chegam a Tailândia
Autor: Brasiliense, Ronaldo
Fonte: O Globo, 26/02/2008, O País, p. 12

ATAQUE À FLORESTA: Ação será expandida para o chamado arco de desflorestamento, que vai do Acre ao Maranhão

Operação Arco de Fogo, que terá 1.100 homens ao todo, fiscalizará serrarias que mantêm madeira cortada ilegalmente

TAILÂNDIA (PA). Cerca de 300 homens da Força Nacional de Segurança, da Polícia Federal e do Ibama chegaram ontem a Tailândia, um dos municípios mais violentos do Pará, e iniciaram a Operação Arco de Fogo, ação coordenada contra a atividade das madeireiras ilegais. A meta é atingir duramente as serrarias, que só nessa região mantêm em seus pátios, segundo estimativa da Secretaria de Meio Ambiente do Pará, em torno de 130 mil metros cúbicos de toras cortadas ilegalmente, madeira suficiente para encher 5 mil caminhões. Ao todo, serão enviados à Amazônia 1.100 homens, na maior ação até hoje contra o desmatamento.

- Viemos para ficar por muito tempo. A operação vai durar mais de um ano - disse o delegado Daniel Sampaio, coordenador geral de Defesa Institucional da Polícia Federal e um dos comandantes da Arco de Fogo.

A escolha de Tailândia para a estréia da operação, apesar de o município não estar na relação dos 150 que mais desmataram na Amazônia em 2007, foi justificada pelo delegado:

- Tailândia foi escolhida por conta de uma fiscalização que começou e não terminou - disse, referindo-se à reação dos moradores contra a operação Guardiões da Amazônia, na semana passada. Insuflados por madeireiros, os moradores tentaram impedir a retirada da madeira apreendida pelos policiais.

A PF tem em mãos um relatório sobre a situação das madeireiras do município. O dossiê mostra que há mais de 160 registros de pessoas jurídicas referentes a madeireiras que atuam em Tailândia, mas muitos CGCs estão registrados no mesmo endereço. Ou seja, várias serrarias atuam na mesma base física, numa tentativa de burlar a fiscalização.

A Arco de Fogo será repetida 120 vezes pelo Ibama até final do ano e não se limitará - como estava previsto inicialmente - aos 36 municípios de Pará, Rondônia e Mato Grosso que mais desmataram floresta em 2007. A idéia é expandir a ação também a outros municípios localizados no chamado arco de desflorestamento da Amazônia, que vai do Acre ao Maranhão.

Os alvos da Operação Arco de Fogo em Tailândia serão de 50 a 60 madeireiras que atuam na clandestinidade, comprando madeira retirada de unidades de conservação federais e estaduais e de terras indígenas.

- A maioria das madeireiras atua na ilegalidade - disse o superintendente do Ibama no Pará, Aníbal Picanço.

Na operação Guardiões da Amazônia, feita em parceria entre o Ibama e a Sema, foram apreendidos 12.800 metros cúbicos de madeira em sete madeireiras. A expectativa dos fiscais do Ibama é que se encontre pelo menos 10 vezes mais nas demais serrarias. São toras de madeira como faveira e goiabão, usadas na produção de laminados, e maçaranduba, tauari e ipê, cortada nas serrarias, adquiridas pelas madeireiras sem plano de manejo florestal sustentável, sem guias de transporte florestal e sem nota fiscal.

A chegada da tropa de choque recrutada pela Arco de Fogo em Tailândia foi apoteótica: mais de 50 carros e quatro ônibus atravessaram a rodovia PA-150 perfilados, pelo centro do município, sob olhares curiosos. Três helicópteros - um da PF, um do Ibama e outro do governo do Pará - que vão dar apoio às ações sobrevoavam continuamente o céu da cidade.