Título: Tuchinha: dinheiro da Mangueira teria pago resgate
Autor: Ramalho, Sérgio
Fonte: O Globo, 26/02/2008, Rio, p. 15

Traficante teme ser morto pelos policiais que o seqüestraram e pode ser beneficiado por delação premiada.

A prisão do traficante Francisco Testas Monteiro, o Tuchinha, pode levar à identificação de um grupo de policiais envolvidos em seqüestros. Investigações da Divisão Anti-Seqüestro (DAS) constataram que Tuchinha foi alvo dos policiais, então lotados na Polinter, que exigiram R$1,2 milhão para libertar o traficante, seqüestrado em fevereiro de 2007. Segundo o inquérito, Tuchinha pagou em três parcelas de R$400 mil, uma delas com dinheiro desviado da escola de samba Mangueira. A participação de policiais também está sendo investigada, por determinação do promotor Homero das Neves, na Corregedoria de Polícia Civil.

Para identificar os policiais, Tuchinha poderá, inclusive, ser beneficiado com a delação premiada, que prevê redução de pena em troca de informações que levem a polícia a identificar e desmantelar uma quadrilha. Ameaçado de morte, o traficante permanecerá isolado numa cela na penitenciária de segurança máxima Bangu I. Co-autor do samba-enredo da Mangueira no último carnaval, Tuchinha foi preso sábado por agentes da DAS e da Polícia Federal em Aruana, a 15 quilômetros de Aracaju, em Sergipe.

Mulher e filha também foram ameaçadas

Ao ser preso, Tuchinha confirmou as ameaças de morte feitas também à sua mulher e à filha, de 3 anos, que estavam com ele na casa. O temor do traficante estaria relacionado ao fato de policiais envolvidos em seu seqüestro estarem à sua procura. Há informações dos setores de inteligência da PF e da Secretaria de Segurança de que Tuchinha seria morto como ¿queima de arquivo¿, se fosse descoberto pelos policiais suspeitos de participação na extorsão. Dois desses policiais já foram identificados, mas continuam trabalhando, por falta de provas.

As investigações revelam ainda que Tuchinha não vem sofrendo ameaças de morte apenas de policiais corruptos. O traficante também foi jurado por antigos aliados da facção que controla a venda de drogas na Mangueira. O motivo seria o acordo feito com Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, para Tuchinha assumir a distribuição de drogas e armas às favelas do Rio, independentemente de facção.

A ligação de Tuchinha com a quadrilha de Fernandinho Beira-Mar foi constatada após o traficante ter acolhido Marcelo da Silva Leandro, o Marcelinho Niterói, no Morro da Mangueira. Principal articulador do bando de Beira-Mar, Marcelinho também esteve com Tuchinha em Búzios e em Salvador. Agentes da DAS e da PF acreditam que Marcelinho também está escondido no Nordeste.

Para viajar sem problemas com a polícia, Tuchinha usava uma carteira de habilitação falsa em nome de Felipe Roberto Maciel Júnior. Com o documento, o traficante alugou imóveis e se hospedou em hotéis em cidades no Espírito Santo e na Bahia.

Ao anunciar a prisão de Tuchinha, sábado, o secretário José Mariano Beltrame disse que o traficante poderia ajudar na elucidação de vários crimes. Procurado ontem pelo GLOBO para saber se estava se referindo à ação de policiais corruptos, Beltrame não se pronunciou. A presidente da Mangueira, Eli Gonçalves, não foi localizada para falar sobre o suposto desvio de dinheiro da escola.