Título: Graças a ativos de US$203 bi, Brasil está credor em quase US$7 bi, diz BC
Autor: Batista, Henrique Gomes; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 26/02/2008, Economia, p. 22

Dívida externa fechou janeiro a US$196 bi, deixando saldo acima do previsto.

BRASÍLIA. O Brasil tem poupança suficiente para quitar a dívida externa - tanto do setor público quanto do privado - e ainda sobram US$6,983 bilhões. O número oficial foi divulgado ontem pelo Banco Central (BC) e ficou bem acima dos cerca de US$4 bilhões extras estimados pela instituição na semana passada, quando anunciou que o país havia se tornado, pela primeira vez na História, credor em moeda estrangeira. A dívida encerrou o mês em US$196,2 bilhões.

Segundo os dados do BC, para honrar esse débito externo, o Brasil já reúne US$203,190 bilhões em ativos, considerando reservas internacionais, créditos brasileiros no exterior e depósitos dos bancos comerciais em instituições estrangeiras.

Para Lula país se tornou credor com "ajuda de Deus"

De acordo com Altamir Lopes, chefe do Departamento Econômico do BC, o resultado foi melhor que o estimado graças ao bom posicionamento dos bancos, que possuem mais ativos no exterior que o calculado anteriormente pela autoridade monetária.

Também contribuíram os mais de US$7 bilhões de crescimento das reservas internacionais em janeiro e a redução, no período, de US$1,5 bilhão do endividamento no exterior.

- Apesar desse número, nada impede que em um mês ou outro o Brasil volte a ficar devedor. O importante é a tendência - disse Lopes, ao ser perguntado se o possível endividamento da Vale para a compra da rival Xstrata, avaliado em US$90 bilhões, poderia fazer o país perder a posição de credor.

Além de ter diminuído, o perfil do endividamento melhorou. Isso porque foi reduzida a participação dos compromissos com vencimento a curto prazo (até um ano): de US$42,538 bilhões em dezembro para US$38,103 bilhões. Quanto mais longa a dívida, maior a capacidade de administrá-la, o que aumenta a percepção de solidez do país.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a comemorar a posição de credor do Brasil. Disse que isso fará o país ser levado a sério no mundo financeiro e creditou o êxito à competência do governo e à "ajudazinha de Deus". E reafirmou que a economia está preparada para enfrentar a crise americana.

- Eu não sei se vocês sentiram o orgulho que eu senti na semana passada - afirmou. - Eu acredito que todos temos competência, mas precisou uma ajudazinha de Deus para que as coisas pudessem dar certo. Eu não conheço ninguém que vença na vida se não tiver sorte. E espero que o nosso governo continue com sorte.

Antes, no programa de rádio "Café com o presidente", Lula ressaltou a importância da estratégia de acumulação de reservas internacionais (quase US$190 bilhões). Ele afirmou que esse quadro foi construído "ao longo de muitos anos, com erros de outros governos, com erros nossos e com acertos":

- Isso dá tranqüilidade para enfrentar a crise americana. É tudo do que o povo brasileiro precisa: tranqüilidade, seriedade, para que a gente recupere os 20 e poucos anos em que a economia brasileira não mereceu o respeito internacional.