Título: Colômbia dá aval para entrega de reféns das Farc
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Fonte: O Globo, 27/02/2008, O Mundo, p. 37

Quatro políticos seqüestrados têm saúde precária e podem ser libertados hoje. Pilotos só conhecerão coordenadas durante o vôo

BOGOTÁ e CARACAS. Após cerca de seis anos em poder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), o drama de quatro reféns que estão com a saúde debilitada pode terminar hoje. O governo colombiano autorizou ontem que a Venezuela inicie a missão que receberá quatro ex-parlamentares seqüestrados pela guerrilha. Bogotá ofereceu garantias para o início da operação de resgate, que segundo o Ministério do Interior venezuelano começa e pode terminar ainda hoje. Acredita-se que eles sejam soltos no departamento colombiano de Guaviare, sendo trasladados depois para a Venezuela.

Numa breve declaração, o presidente colombiano, Álvaro Uribe, disse que seu governo "colaborará como sempre" para que a guerrilha entregue Gloria Polanco de Lozada, Orlando Beltrán Cuéllar, Luis Eladio Pérez e Jorge Eduardo Géchem. Sabe-se que Gloria tomava remédio para tireóide, que Beltrán sofre de hipertensão e que Pérez é diabético. A eles se juntou na última hora Géchem, que já teve cinco princípios de infarte.

- Parece que tudo está previsto para amanhã (hoje). Entendemos que as operações podem ser nas primeiras horas da manhã para que, se Deus permitir, nossos familiares estejam aqui em Caracas à tarde - disse Jaime Felipe Losada, filho de Gloria, na capital venezuelana.

Reféns escoltados por 60 guerrilheiros

As Farc, que já libertaram as políticas Clara Rojas e Consuelo Gonzalez mês passado, anunciaram em 31 de janeiro que libertariam mais três reféns, num gesto unilateral, entregando-os a um representante do presidente da Venezuela, Hugo Chávez. No fim de semana, confirmaram a inclusão de Géchem, que numa carta enviada como prova de vida pedira para ser enviado a Cuba como prisioneiro político para receber tratamento médico.

Um helicóptero partirá de algum ponto na fronteira. A pedido das Farc, o ministro do Interior venezuelano, Ramón Rodríguez Chacín, só dará as coordenadas aos pilotos do Comitê Internacional da Cruz Vermelha durante o vôo. Em resposta ao pedido do CICR para ter as coordenadas em caso de acidente, um homem da confiança de Chacín ficará com as informações num envelope lacrado, ao lado de um funcionário da organização.

- Somente se passarem várias horas e a aeronave não regressar o envelope poderá ser aberto - disse o ministro.

A desconfiança se deve, segundo a guerrilha, à presença de mais de 18 mil soldados na região. Segundo ele, se não houver contratempos, a libertação pode ocorrer hoje mesmo.

O jornal colombiano "El Tiempo" informou ontem que a demora na entrega das coordenadas se deveu à espera de provas de vida que serão entregues com os libertados. Alguns guerrilheiros não consideravam conveniente entregá-las, diante do impacto negativo que causou o mau estado físico de alguns reféns em imagens e cartas entregues por Clara e Consuelo.

Informações obtidas pelo governo colombiano indicam que Géchem, Gloria e Beltrán saíram de um acampamento na selva de Guaviare. Pérez teria saído de um acampamento entre Guaviare e Vaupés. E 60 homens das Farc fariam parte de um anel de segurança que os acompanhou até La Paz de El Retorno.

As famílias dos reféns estão em Caracas, para onde segue a senadora colombiana Piedad Córdoba que atuou ano passado como mediadora com Chávez.

- Estamos contando as horas e os minutos - disse Yolanda Polanco, irmã de Gloria.

Os quatro fazem parte de um grupo de cerca de 40 reféns que as Farc pretendem trocar por guerrilheiros presos. Entre os que continuam em cativeiro está a ex-senadora Ingrid Betancourt, capturada há seis anos.