Título: Saio frustrado, mas esperançoso
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 28/02/2008, O País, p. 3

SÃO PAULO. O embaixador Marcílio Marques Moreira, ex-presidente da Comissão de Ética Pública do governo federal, disse que a permanência do ministro do Trabalho, Carlos Lupi (PDT), no cargo, foi uma "pequena parte" de sua motivação para deixar a presidência do órgão. Marcílio, que disse sair frustrado, foi substituído pelo ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Sepúlveda Pertence, depois de uma crise de dois meses com Lupi, que acumula os cargos de ministro e presidente do PDT. Marcílio falou ao GLOBO antes do lançamento do livro "Cultura das transgressões no Brasil: lições da História", dos quais é co-autor, juntamente com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Tatiana Farah

O senhor deixou a presidência por não ter conseguido a demissão do ministro do Trabalho?

MARCÍLIO MARQUES MOREIRA: O episódio Lupi foi uma pequena parte de um todo mais amplo. Saio frustrado, sim, mas esperançoso (em relação à preocupação do funcionalismo com a ética pública).

Por que saiu frustrado?

MARCÍLIO: Pelo fato de que no Brasil a ética pública, como um fio condutor, instrumento extremamente essencial na gestão da coisa pública, não ter sido consolidada. Mas a minha esperança é que o tema da ética pública passe a constar da pauta de reflexão da opinião pública e da pauta política.

A ministra Dilma Rousseff disse que a questão de Lupi não deveria ser discutida com o fígado. A questão tornou-se pessoal?

MARCÍLIO: Não posso me pronunciar porque não entendi as palavras da ministra.

Lupi respondeu aos questionamentos da comissão sobre presidir o PDT e ocupar o Ministério?

MARCÍLIO: Sim, ele respondeu com argumentos que o relator, Hermann Baeta, não aceitou e foram considerados inconsistentes. Daí a consideração que fizemos ao presidente de procurar um caminho de corrigir essa situação de conflito de interesses. Porque o conflito de interesses mal resolvido hoje sempre acaba criando problemas mais sérios amanhã.

Esses convênios irregulares poderiam ter sido evitados se o governo tivesse resolvido esta questão, como sugeriu a comissão?

MARCÍLIO: Esses temas estão sendo considerados pela comissão e foram pedidos esclarecimentos ao ministro, de modo que é difícil antecipar opinião sobre isso, já que continuo membro da c