Título: Encontrados dois corpos no helicóptero que caiu no mar
Autor: Balbi, Aloysio; Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 28/02/2008, Rio, p. 15

Agora são 3 mortos, mas 2 pessoas estão desaparecidas

MACAÉ. Um submarino robótico da Petrobras localizou ontem, a 820 metros de profundidade, partido em três pedaços, o helicóptero Super Puma L2 da empresa BHS, que caiu na tarde de terça-feira no Campo de Marlim, na Bacia de Campos. A cabine estava preservada e, na parte traseira, foram encontrados dois corpos - elevando a três o número total de vítimas até agora. Duas pessoas continuam desaparecidas. As buscas mobilizam mergulhadores, oito barcos, três helicópteros, três robôs submersíveis e um avião da FAB. O acidente deixou 15 feridos.

Jairdete da Silva Ramos contou que sua neta Valéria Cristina Taveiros, funcionária da Elfe Solução em Serviços Ltda e uma das sobreviventes, disse que os ocupantes ficaram abraçados e de mãos dadas no mar, boiando entre ondas imensas.

A Petrobras e a empresa BHS, dona do helicóptero, ainda desconhecem as causas do acidente. Há dúvidas se houve um pouso forçado no mar ou se a aeronave caiu após decolar da plataforma P-18. A hipótese de pouso forçado devido ao mau tempo foi descartada porque, segundo o gerente-geral de Produção da Petrobras, Guilherme Estrela, no momento da decolagem o tempo estava bom. O helicóptero, segundo a BHS, tinha seis anos de fabricação e havia passado por uma revisão há 15 dias. A hipótese de pouso forçado foi levantada porque os flutuadores foram acionados.

Sindicato denuncia vôos de risco

Em entrevista na sede da Petrobras em Macaé, Estrela afirmou que o índice de acidentes com helicópteros na Bacia de Campos é baixo, sendo referência internacional. O diretor do Sindicato dos Petroleiros, José Maria Rangel, rebateu dizendo que foi uma tragédia anunciada e que a entidade vem recebendo relatos de vôos de risco.

- Temos hoje na Bacia de Campos 55 helicópteros, sendo que 45 têm menos de cinco anos de uso. Estamos renovando a frota. Desde o acidente em 2004, quando seis pessoas morreram, adotamos medidas ainda mais rigorosas - disse o diretor da Petrobras, que foi lembrado de que o acidente ao qual se referiu aconteceu também com um helicóptero da BHS.

Estrela disse que uma comissão formada por Aeronáutica, Marinha e Petrobras vai apurar as causas do acidente. O Sindicato dos Petroleiros também participará da comissão, mas ontem seus diretores lembraram que não assinaram o relatório final do acidente de 2004 por não concordarem com ele. O relatório é inconclusivo, atribuindo o acidente a problemas técnicos, segundo Rangel.

O diretor da Petrobras disse que não há prazo para a conclusão das investigações e que, neste primeiro momento, a preocupação da estatal é prestar assistência às vítimas e suas famílias. Segundo a gerente de Assistência Médica da estatal, Magaly Garcia Brum, os 15 sobreviventes, que se encontram internados, sofreram escoriações e estão fora de perigo. A maioria está no hospital da Unimed em Macaé. O co-piloto do helicóptero, Sérgio Ricardo Muller, que foi levado primeiramente para o Hospital Público de Macaé com suspeita de fratura na coluna, teve na verdade uma forte torção lombar e foi transferido para uma clínica.

Os sobreviventes ainda não relataram oficialmente detalhes do acidente, mas existe a possibilidade de o piloto Paulo Roberto Veloso Calmon ter sacrificado a sua vida, na tentativa de ajudar todos a saírem da aeronave. Não se sabia até o final da tarde de ontem se seria dele um dos dois corpos que estavam dentro do helicóptero.

O piloto, de Guarapari (ES), era considerado o mais experiente em atividade na Bacia de Campos. Tinha 58 anos e 30 de profissão, sendo 20 em exercício em Campos.

Com os flutuadores acionados, o helicóptero ainda conseguiu ficar na superfície por mais de uma hora, antes de afundar. O técnico de segurança do trabalho da empresa Sparrows BSM Engenharia Marcelo Manhães dos Santos, de 27 anos, cujo corpo foi encontrado na noite de terça-feira, foi sepultado no fim da tarde de ontem em Rio das Ostras, onde morava.

A Polícia Civil de Macaé e a Comissão Nacional de Investigação Aeronáutica investigarão o acidente. O Sindicato dos Petroleiros convocará trabalhadores da Bacia de Campos para assembléias que discutirão uma greve em protesto contra as condições de segurança.