Título: Putin sinaliza longevidade política com projeto
Autor: Oswld, Vivian
Fonte: O Globo, 28/02/2008, O Mundo, p. 33

Presidente russo prepara plano de desenvolvimento para os próximos 12 anos e deve superar rivais no poder

MOSCOU. O presidente Vladimir Putin pode se tornar o líder político eleito que mais tempo permaneceu no poder entre as grandes potências. Normalmente, existe uma espécie de prazo de validade. Mesmo George Bush (pai do atual presidente americano), vice-presidente por oito anos e chefe de Estado por outros quatro, e Tony Blair, dez anos como premier, acabaram saindo de cena. À frente da Presidência há oito anos, após ter sido primeiro-ministro por um ano, Putin dá mostras de que não deixará de ser o homem-forte da Rússia tão cedo.

Ele aceitou o convite para ficar no próximo governo como premier. E, há duas semanas, propôs, em encontro com as principais figuras políticas do país, um plano de desenvolvimento para os próximos 12 anos. Seguindo suas instruções, um dia depois, seu provável sucessor, Dmitri Medvedev, deu alguns detalhes do programa, mas se restringiu aos quatro anos de governo que terá pela frente.

Putin já deixou claro que ocupará o cargo durante todo o mandato de seu protegido. Mas seu projeto pode ter um prazo ainda mais longo. Segundo analistas, deve voltar à Presidência para dois novos mandatos em 2012. Coincidência ou não, o período bate com a validade do plano que apresentou.

¿Ao propor à Rússia uma estratégia de desenvolvimento até 2020, Putin confirmou que não pretende deixar a cena política. Não foi uma surpresa. O presidente que sai propõe um modelo no qual permanecerá na qualidade de primeiro-ministro estrategista da modernização. Quanto ao novo presidente, ele exercerá seu programa, ou irá completá-lo¿, diz a especialista Lília Shevtsova, em artigo no jornal russo ¿Novaya Gazeta¿.

Eleição pode criar ambigüidade de poder

As eleições do próximo domingo devem criar uma situação inusitada num país em que o poder é extremamente personalizado: a existência de dois centros de decisões. Segundo especialistas, o poder emanará do Kremlin, onde estará Medvedev, e da Casa Branca russa, onde ficará o gabinete de Putin.

Acredita-se que Medvedev deva exercer um papel de presidente técnico, enquanto Putin dará as cartas. ¿Ninguém acha que vão formar uma associação perfeita, porque o sistema de poder personificado não pode ser duplo, mesmo quando se apóia sobre a lealdade mútua¿, diz Lília. Resta saber como será a nova divisão de poderes, que hoje é bastante clara pela Constituição russa. Em tese, para que o primeiro-ministro passe a ter funções que atualmente cabem ao presidente, seria necessário alterar a Constituição. E o governo tem o apoio de mais de 90% dos deputados na Duma (câmara baixa do Parlamento).

Para Ludmila Fomicheva, diretora da agência de notícias russa Interfax, não haverá dois centros de poder. A jornalista, que trabalhou com Putin e Medvedev em São Petersburgo, reconhece, porém, que o novo presidente deve enfrentar dificuldades no início do mandato.

¿ Medvedev não tem experiência de chefe, mas de subordinado ¿ afirma Ludmila.

Os imensos outdoors de campanha eleitoral, em que Medvedev aparece junto de Putin, reforçam a associação dos dois. Mas, propositalmente ou não, o mentor aparece um passo à frente.