Título: ¿Paciente zero¿ se curou
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 30/04/2009, Mundo, p. 36

O menino Edgar Hernández, de 5 anos, brinca hoje pelas ruas de La Gloria, a 280km da Cidade do México. Ele foi o primeiro caso de gripe suína no país. O humilde povoado tem apenas 3 mil habitantes e 56 mil porcos. Os animais são criados pelas Granjas Carroll, propriedade da empresa norte-americana Smithfield Foods, que desde 2007 vem sendo processada pela comunidade devido aos danos ambientais à região do Vale de Perote, como contaminação da água e do ar. Entre março e abril, os médicos de La Gloria atenderam 1.300 pessoas com problemas respiratórios e 450 com gripe.

¿Nenhum de nossos porcos está doente, nenhum de nossos empregados está doente. Isto é uma infeliz coincidência¿, defende-se o diretor-geral das Granjas Carroll, Víctor Manuel Ochoa. ¿Os porcos são `gringos¿, estão mais bem cuidados e alimentados do que nós¿, ironizou Juan Luna, morador de La Gloria. Já a mãe de Edgar, María del Carmen Hernández, não tem dúvidas: ¿Que fechem essa granja de porcos, é um ninho de doenças¿. ¿Primeiro ficaram doentes seus amiguinhos da escola, depois os vizinhos, conhecidos, de todas as idades¿, conta Maria. Na família dela, só o filho Edgar adoeceu. Ela o levou a um hospital e os médicos o trataram como se fosse uma gripe comum: receitaram o antibiótico amoxilina e paracetamol.

As autoridades mexicanas confirmaram que o menino está saudável e que foi o primeiro infectado pelo vírus H1N1 no país, apesar de a morte de uma mulher de 39 anos em Oaxaca ter desatado o alerta nacional. O governador de Vera Cruz, estado onde fica La Gloria, defendeu a granja de porcos e atribuiu o surto de doenças respiratórias a ¿duas frentes frias muito fortes em Xalapa (capital de Vera Cruz) e Perote¿. ¿O menino foi o único caso de vírus de influenza suína em Vera Cruz¿, disse. Mesmo assim, o governo mexicano decidiu lançar uma campanha de saúde no município, pois já morreram duas crianças de pneumonia.

O diretor de recursos humanos da empresa americana, Mike Hawn, proibiu os jornalistas de visitarem a granja em La Gloria por receio de que eles pudessem infectar os porcos. ¿Nossos porcos são extremamente saudáveis¿, disse. O jornal mexicano Milenio esteve no local na quinta-feira passada e verificou que as ¿lagoas de oxidação¿, onde as fezes dos porcos se convertem em gás metano, inundam o povoado com um odor fétido. Nos biodigestores, fossas cobertas com uma porta de metal, são atirados os restos de porcos doentes ou machucados. ¿Esses buracos representam uma fonte de contaminação e proliferação de moscas, que chegam à comunidade de La Gloria¿, alerta o jornal.