Título: Culpa é do contador, diz direção do PV
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 02/03/2008, O País, p. 10

Fundo partidário pagou até multa de carro da executiva.

As infrações no trânsito feitas pelo motorista de um carro da executiva nacional do PV, doado por um militante, foram pagas também com o dinheiro do contribuinte. A multa de R$127,69, cometida em Salvador, está na prestação de contas do partido. No PV, 95% dos recursos são provenientes do Fundo Partidário. Em 2005, o total foi de R$939 mil. Em 2007, o valor pulou para R$5,3 milhões.

Para Paulo Moraes, Eduardo Coelho e Francisco de Assis Silva, militantes do PV que estão usando os dados da prestação de contas para denunciar o que consideram a derrocada do partido, o gasto simboliza a apropriação dos recursos públicos, que, segundo eles, virou marca nos partidos políticos. Os três foram expulsos do PV e entraram com recurso para continuar no partido.

- Os partidos recebem dinheiro público e gastam como se fosse particular. O PV, a meu ver, perdeu a ética. E não tinha o direito de fazer isso - disse Paulo Moraes.

A atual gestão do PV, que está há dez anos à frente do partido, responsabiliza um problema técnico pelas irregularidades na prestação de contas.

- Tínhamos um setor de contabilidade frágil. Tanto é que depois trocamos de contador. Antes, tínhamos um que prestava contas para 50 empresas. Houve falhas contábeis nessa prestação de 2005, o contador fez uma confusão tremenda e contabilizou como não devia no balancete - explica o atual secretário de Finanças do PV, Reynaldo Morais, ressaltando que não estava no cargo em 2005.

Nota tem CNPJ de empresa inexistente

Entre as "confusões" está uma nota fiscal, no valor de R$4,8 mil, por um serviço prestado "na área de visual de candidatos e apresentadores", pela empresa Corinne Decorações, em Campina do Monte Alegre, em São Paulo. Consulta à Receita Federal mostra que a empresa é inexistente desde 1997.

O contador ressalta ainda que o partido prestou todas as informações solicitadas pelo TSE. Ele sustenta que os militantes decidiram confrontar a direção nacional porque eram de um grupo que perdeu a disputa durante o processo de sucessão interna do partido.

Morais afirma que o questionamento do TSE em relação ao fretamento do avião pela direção nacional do partido foi devidamente esclarecido: custaria menos do que pagar passagem a todos os dirigentes. Ele explica ainda que o pagamento das diárias no PV obedeceu e obedece ao critério de pagamento usado pelos órgãos federais e foi regulamentado por portaria do partido.

Presidente do PV em 1998, Alfredo Sirkis reconhece que havia uma grande "esculhambação contábil" no partido. Mas atribui as denúncias a rivalidades políticas internas.