Título: Um chefe que prefere a rua aos gabinetes
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 02/03/2008, O País, p. 14
Ganme reprime crimes ambientais nas áreas mais problemáticas.
SINOP(MT). Apesar de estar no comando da operação, Antônio Ganme não é um chefe que gosta de gabinete. Ele atua pessoalmente nas fiscalizações e aplicações de multa. É um dos primeiros a sair do carro para abordar uma carreta suspeita de traficar madeira ilegal; faz sobrevôos nas propriedades rurais; fecha madeireiras; e coordena barreiras nas estradas. Até mesmo o metódico e desgastante trabalho de medição de toras e ripas de madeira nos pátios de uma madeireira, atividade que leva às vezes um dia inteiro, ele faz questão de acompanhar.
Antônio circula pelo país sempre em operações que ocorrem em áreas problemáticas, como a Terra do Meio, no Pará, onde foi assassinada a missionária americana Dorothy Stang, em 2005, na cidade de Anapu. Ano passado, esteve numa ação no período de defeso da lagosta no Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. Um dos trabalhos mais delicados foi no Maranhão, ano passado: atuou na retirada de traficantes de dentro da reserva ambiental de Buriticupu, numa região conhecida como Vila da Maconha.
Formado na Escola Paulista de Medicina, em 1983, especializou-se em doenças infecciosas e fez residência tratando de portadores do vírus HIV, numa época em que o índice de morte pela doença era alto. Lembra com tristeza da rotina e da impotência de ver pacientes morrerem sem muito o que fazer.
¿ Era algo sofrido para nós. Naquela época, revelar a um paciente que ele estava com Aids era dar uma notícia de morte. Cada consulta para dar esse diagnóstico levava uma hora e meia. Não bastasse ser uma doença terminal, era uma doença que estigmatizava a pessoa.
Ele era um ¿revoltado¿, lembra colega médico
A partir de 1998, Antônio passou a trabalhar no laboratório Abbot. Na antiga profissão, Antônio conviveu com infectologistas que são referências no tratamento da Aids, como Caio Rosenthal ¿ com quem chegou a dividir consultório durante um ano ¿ e Jacyr Pasternak.
Rosenthal tem boas lembranças do ex-aluno e ex-sócio de consultório, e relatou que Antônio sempre foi um ¿revoltado¿. Ele não sabia onde o colega andava.
¿ O Antônio foi para o Ibama?! Me surpreendo e fico até contente. Ele largou a medicina porque nunca conseguiu se engajar nos padrões tradicionais de médico urbano. Ele tinha uma visão mais social da doença e da medicina. Achou uma saída honrosa. Em vez de ajudar um paciente individualmente, agora vai colaborar com o coletivo, com a humanidade ¿ disse Caio Rosenthal.