Título: Exército da Colômbia mata número 2 das Farc
Autor:
Fonte: O Globo, 02/03/2008, O Mundo, p. 40
Raúl Reyes, porta-voz internacional do grupo guerrilheiro, é o primeiro líder morto em ação em quatro décadas.
BOGOTÁ. As autoridades colombianas anunciaram ontem a morte do porta-voz internacional das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Raúl Reyes, num bombardeio realizado pelas Forças Armadas na região de fronteira do país com o Equador. Em mais de 40 anos de insurgência, foi a primeira vez que um membro do Secretariado das Farc morreu numa ação militar. O alto comando do grupo guerrilheiro é composto de sete membros e Reyes era considerado o segundo em comando, atrás somente do líder, Manuel Marulanda.
¿ Este foi o golpe mais importante já desfechado contra o grupo terrorista ¿ comemorou o ministro da Defesa colombiano, Juan Manuel Santos.
A operação militar foi desencadeada depois que a inteligência colombiana foi informada da presença de Reyes num acampamento em território equatoriano. Um bombardeio iniciado logo após a meia-noite iniciou a ação militar, em que morreu também Julián Conrado, um dos ideólogos das Farc. Outros 16 guerrilheiros também teriam sido mortos nos confrontos. O ataque foi comunicado pelo presidente Álvaro Uribe a seu colega equatoriano, Rafael Correa.
Raúl Reyes, de 59 anos, era o porta-voz internacional do grupo guerrilheiro e foi seu principal negociador durante as conversações de paz no governo do presidente Andrés Pastrana (1998-2002). Em entrevistas recentes, Reyes assegurou que o grupo seguiria lutando pelo poder, e negou que a organização fosse financiada pelo narcotráfico, afirmando que cobrava apenas um imposto pelo cultivo da coca. Sobre as condições de vida dos reféns das Farc, Raúl Reyes declarou que eram duras ¿porque eles não estavam fazendo turismo ecológico na selva¿.
Os reflexos que sua morte terá sobre a situação dos seqüestrados são uma incógnita. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, voltou a pedir ontem a libertação da ex-senadora Ingrid Betancourt, de nacionalidade franco-colombiana, seqüestrada há seis anos pelas Farc. Ele disse que a morte de Reyes acontece em ¿um momento crucial, quando tudo deveria ser posto em movimento para impulsionar a dinâmica que começou com as libertações unilaterais de reféns em poder das Farc¿. Semana passada, mais quatro ex-parlamentares mantidos em cativeiro foram libertados.
Esperança de que morte possa levar Farc a negociarem
No último ano, as Forças Armadas da Colômbia mataram quatro importantes dirigentes rebeldes das Farc, entre eles Martín Caballero, Tomás Medina Caracas (o Negro Acácio) e Jota Jota. O governo colombiano também anunciou a prisão de Lucio Gómez Briñez, suposto substituto de Caballero. Analistas políticos e militares consideram este o principal golpe contra a guerrilha em toda a história de luta na Colômbia. Segundo Alfredo Rangel, a morte do número 2 das Farc pode provocar modificações no grupo guerrilheiro e levá-lo a uma negociação com o governo.
¿ Pode gerar uma recomposição no Secretariado em favor de posições mais pragmáticas e mais flexíveis em temas como a troca humanitária e negociações de paz com o governo, dado que Reyes sempre teve uma posição mais intransigente ¿ disse.